quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

E essa tal de liberdade...



"Liberdade na vida é ter um amor pra se prender" - Fabrício Carpinejar      

        Liberdade é uma palavra linda, né? É o ápice do sonho de consumo do mundo capitalista e moderno. Todo mundo quer ser livre, todo mundo se proclama livre. Livre de patrões, livre de regras, livre de ordens, livre de horários, livre no amor, livre na amizade, livre!

        Mas o que é ser livre? É fazer tudo o que se quer, sem ter que dar satisfações a ninguém? Se for isso, então a liberdade não existe. Sempre, e ressalto SEMPRE, teremos que dar satisfação de nossos atos a alguém. A menos que vivamos sozinhos num lugar bem distante. Mas, mesmo assim, teremos que dar satisfações à Mãe Natureza, pois se fizermos o que quisermos, ela vai chiar, e como vai chiar... Concluindo, impossível viver sem dar satisfações. Logo, ou acreditamos que não existe liberdade mesmo, é aí nos conformamos em viver dentro dos moldes pré-estabelecidos, ou então procuramos outro conceito de liberdade.

        Aí acho que matei a charada! Se acreditamos que liberdade é fazer tudo o que nos der na telha, caímos numa emboscada. Porque esse conceito de liberdade é impossível de aplicar. E nesse ponto os rebeldes têm duas opções: entram num círculo de loucura ensandecido que os levam à autodestruição, casos tão conhecidos como Jim Morrison, Jack Kerouac, Kurt Cobain, os poetas do século XIX e tantos outros gênios inconformados da humanidade, ou então desistem de tudo e se enquadram no sistema, mais caretas do que nunca, convencidos de que nada disso adianta. E se tornam os maiores castradores de nossa sociedade, guardiães da ordem e dos bons costumes. Se eles não podem fazer o que querem, ninguém mais fará!

        Vou dizer então que liberdade na vida é ter um amor pra se prender, o conceito mais que perfeito de Carpinejar. Qualquer amor. Ou amores, melhor ainda. Um ideal, uma profissão, uma arte, um lugar, um bichinho, uma pessoa, uma pessoa muito especial, uma pessoa mais especial ainda. Mas quando digo amor, digo amor de verdade. Não é aquele amorzinho leve e superficial que nos faz sorrir. É aquele amor que faz o nosso corpo vibrar e nosso pensamento passear pelas mais variadas sensações, nos dá direção, garra, foco.

        Já voltei de viagem mais cedo porque estava com saudades da minha gatinha. Já acordei de madrugada para ir nadar ou pedalar. Já deixei de comer um chocolate irresistível para guardá-lo para meu amor. Já voltei de madrugada para casa depois de consolar uma amiga. Já virei noites estudando, porque precisava ser a melhor. Já fui a programas nem tão legais assim só pra ficar na companhia daquela pessoa especial. Já atrapalhei toda a minha agenda para não deixar alguém querido sozinho. Já deixei de sair com meus amigos para ficar juntinho de meu pai e minha mãe, em silêncio. Já esqueci do mundo escrevendo neste blog. E em todas, em todas essas vezes, me senti muito livre. Livre por sentir um amor tão forte que consegue impor sua vontade sobre meus instintos primários e egoístas. Livre porque não fiz aquilo que tinha vontade, mas sim aquilo que queria, conscientemente.

         Quem não consegue amar não consegue ver razão em nada. Fica solto, ao sabor dos desejos momentâneos, e sempre insatisfeito. Vagando de desejo em desejo, num vazio sem fim. Liberdade é outra coisa. É renunciar, e mesmo assim se sentir completo. É saber escolher aquilo que vai tornar mais forte ainda o seu amor, sempre.