quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

2012, o ano do fim do mundo



  2012 foi um ano estranho. Ano do fim do mundo, ano em que logo de cara perdi meu Fidelzinho.  Ano em que ganhei o pequeno Che, para logo depois perder. Ano que iniciou um ciclo de sustos que meu pai nos deu com sua saúde debilitada. Ano que me apresentou a idéia da morte. Ano também de viver aos trancos um grande amor.

  Ano de muitas mudanças, de muitas idéias, de muitas iniciativas. Escrevi pouco. Estudei pouco. Comecei vários livros, mas foram poucos os terminados. Comecei vários projetos, mas estão todos pendentes. Sonhei vários sonhos, mas estão todos inacabados.

  A sensação que eu tenho é que levei uma surra da vida. Parece que ela resolveu me pegar e dizer: "este ano você vai aprender a lidar com todos os seus monstros, custe o que custar." Tudo bem, vida, dez a zero para você. Você tem razão. 

  Eu ia reclamar de 2012 e torcer para que ele vá embora logo. Chega, cansei. Mas pensei bem e acho que estou sendo injusta com ele. Fora o blá blá blá piegas, já que fiz muitos amigos, fiz viagens deliciosas e me diverti muito também. Mas o que valeu foi a surra.

  A presença constante da morte em minha vida não me ensinou a lidar com perdas, como eu esperava. Mas pelo menos ela me mostrou bem de perto que elas existem, e você precisa viver com isso. Cada perda dói, e como dói, e toda vez que uma nova perda acontecer, a dor vai ser igual. Não vai melhorar, você não vai ser mais equilibrado. A única diferença é que você vai entender melhor a dor do outro. Talvez você consiga ser mais carinhoso e tolerante com as pessoas, e consiga ver tudo sob outra ótica. Talvez você entenda que muitos sentimentos não valem a pena ser vividos. Talvez você entenda o que é, na realidade, perda de tempo.

  Aprendi a amar a minha mãe e seu temperamento difícil. Temperamento difícil como o meu. Entendi sua luta constante e solitária para manter a sua pequena família em pé. Debaixo daquela casca dura e que parece incapaz de expressar sentimentos há uma mulher muito forte e movida a amor. Aprendi que ela só não sabe expressar direito esse amor. Assim como eu. 

  Aprendi também que quando nutrimos sentimentos ruins, é nossa alma que padece. A mágoa, o orgulho, o medo, só nos paralisam. As pessoas nos magoam e nos ferem, às vezes sem querer, e às vezes querendo. Mas não conseguir perdoar, quando na realidade queremos perdoar, nos acorrenta e aprisiona. Nos impede de viver aquilo que queríamos viver. Lembro-me da minha primeira travessia de natação numa represa. O medo me paralisou de tal forma que não consegui nadar. A respiração travou, o cérebro simplesmente não mandava mensagem alguma ao corpo. Até que um dos organizadores veio e nadou ao meu lado. Ah, a sensação de vencer o medo foi inebriante. O prazer de deixá-lo para trás e conseguir nadar foi inesquecível.

  Essa foi a lição que 2012 deixou para mim. Não deixar de viver os meus sonhos por conta do medo. Esquecer o que paralisa. Entender que as pessoas ferem, mas se você as ama, não vale a pena deixar de desfrutá-las por conta disso. Elas não são perfeitas, assim como eu não sou. Elas sofrem e temem, assim como eu. 

  Venha 2013. Não faço planos, porque gosto mesmo é do improviso. Meus planos acabam nunca dando certo, tomam outros rumos e no fim tudo sempre dá mais certo do que eu imaginava.  Gosto mesmo é de sonhar,  e sonho com um 2013 cheio de realizações. De finalizações. Sonho com um ano tranquilo, acho que minha adolescência  prolongada finalmente chegou ao fim. 

  E obrigada 2012. Obrigada por colocar os meus medos todos no meu nariz, o tempo todo. Agora finalmente posso dizer adeus a eles. Foi realmente o ano do fim de um mundo.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Sobre sapos e príncipes


    Hoje o blog faz 2 anos. E lá fui eu dar uma olhadinha no meu primeiro texto, saudosista que sou. Chama-se "Príncipes Encantados não existem". Lembro-me do dia em que escrevi o texto, do dia em que abri o blog e lhe dei o nome. E lembro exatamente do que sentia nesse dia.

    Havia em mim um certo sentimento de revolta: mas que mania as meninas têm de buscar o homem perfeito, ora bolas. Tem que ser mais velho, mais bem sucedido, mais decidido, mais forte, mais estruturado emocionalmente. Praticamente um tutor, alguém que nos protegerá e saberá o que fazer em todas as horas. E de quebra, ainda por cima bonito, alto e cheiroso.

    Aparentemente, alguns homens preenchem esse modelo sim. É em cima deles que todas as mocinhas caem de amores desesperadas, à procura de salvação. Eu nunca me encantei por esses tipos. Nunca acreditei muito neles. Ou talvez tivesse mesmo é medo da concorrência, já que nunca confiei muito no meu poder de sedução, afinal de contas.

   A verdade é que sempre me apaixonei pelos sapos. Os tímidos, os escondidos, aqueles pelos quais ninguém moveria mundos. Mas que mostram aquilo que é privilégio de poucas, muito poucas. Com o decorrer do tempo e com a paciência e sensibilidade necessárias. 

    O problema dos sapos é que eles não salvam você das suas confusões, seus dramas, seus conflitos. Não têm aquela maturidade infinita das histórias dos contos de fada, dos bests sellers, dos filmes hollywoodianos. Eles não são resolvidos, então não espere que resolvam nada para você. E o diabo é que dentro de toda mulher, mesmo desta aqui que vos fala, ainda mora uma Cinderela indefesa querendo ser salva de todos os perigos através de um amor romanesco. 

    É preciso ser muito mulher para amar um sapo. É preciso cuidar mais que ser cuidada. É preciso entender mais que ser entendida. É preciso seduzir mais que ser seduzida. É preciso doar e não esperar receber. É preciso ser estável mesmo durante a TPM. Difícil pra caramba. Difícil e dolorido.

    Qual a vantagem disso então, você deve estar se perguntando. Eu diria que não há vantagem, há uma escolha. Amar um sapo é descobrir aos poucos o que os olhos desatentos não enxergam. É semear um carinho que será recebido da forma mais inesperada, no momento em que menos se espera. É livrar-se de preconceitos e de dogmas que foram incutidos em nossas mentes e nossos corações, quando ainda éramos pequeninas. É amadurecer fazendo o outro amadurecer. É construir um relacionamento único, porque difícil. Difícil porque não é fácil livrar-nos dos papéis que nos foram impostos e não estamos dispostos a cumprir. 

    Louis Lane perto de Clark Kent é uma jornalista forte e decidida. Perto do Super-Homem torna-se uma mocinha frágil e histérica. Super-Homem é de mentira, só sobrevive à base de criptonita. Clark Kent é de verdade. Louis Lane jornalista é real e feliz. Louis Lane mocinha em perigo desempenha um papel determinado há séculos e perde a sua essência.

    O mesmo sapo que inspirou este texto inspirou o nascimento deste blog. Me fez crescer nestes dois anos, enfrentando o conflito diário entre o desejo de ser princesa e o de ser uma mulher como Pilar Del Río. O conflito de amar o Clark Kent e sonhar com o Super-Homem. É, eu sei que ele não queria ser sapo. Acha que eu sonho com o dia em que ele virará príncipe. O que ele não sabe é que jamais seria meu herói e jamais transformaria tanto a minha vida se fosse, simplesmente, um príncipe.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Entre tapas e beijos


   Amor não é paixão. Paixão não é amor. Amor pode existir sem paixão, paixão pode existir sem amor. 

   Paixão não é vestibular do amor. Paixão é paixão, existe e pronto. Pode ser que o amor venha depois, pode ser que não. Pode ser que o amor surja ao mesmo tempo, mas aí ninguém percebe porque a paixão ofusca tudo.  E pode ainda ser que o amor venha antes.

    A paixão é uma madame escandalosa, o amor é um senhor muito discreto.

   Paixão faz as pernas tremerem, amor finca os pés no chão. Paixão faz o pulso acelerar, amor faz a gente sentir um calor no coração. Paixão dá falta de ar, amor faz a respiração ficar tranquila. Paixão tira o sono, amor dá vontade de dormir de conchinha. Paixão é desejo, amor é satisfação. Paixão dá um medo desesperado de perder, amor dá uma sensação boa de ter. Paixão é emocionante, amor é gratificante.

    Paixão não é menos que amor. Nos faz sentir vivos. E amor não é menos que paixão. Amor nos faz vivos. 

   Parecem tão diferentes, e ao mesmo tempo são tão gêmeos. Um quer excluir o outro, mas na realidade adoram mesmo é caminhar de mãos dadas. 

    Normal é sentir paixão primeiro, e depois descobrir o amor. Porque a paixão nasce de um olhar, de um gosto, de uma frase especial, de um não sei o quê que encanta. Encanta e nos faz sonhar. Já o amor nasce do conhecer, do conviver, do gostar de estar junto, do querer mais do que querer, do querer bem. Amor é um querer bem sem fim, paixão é um querer sem fim. Mas não é porque é normal que vai ser assim com todo o mundo.
   
    Bom demais sentir paixão sem amor. Bom também sentir amor sem paixão. Mas sentir amor com paixão, ou paixão com amor é um golpe de sorte… ou de azar. Porque aí você vai desejar loucamente num dia, mas no outro vai querer só ficar quietinho, comendo bolo de fubá e assistindo televisão. Vai fazer loucuras numa noite, para acordar na manhã seguinte com aquele pijama velho e nem se importar com isso.  Vai fazer um jantar especial cheio de velas e almoçar miojo no dia seguinte.

     Pois é, meu amigo. Vai ser difícil explicar para a madame escandalosa que ela finalmente virou uma senhora muito respeitável. E para aquele senhor discreto que ele vai ter que perder a timidez e dançar a macarena de vez em quando. E que eles vão assim viver juntos, dominando e sendo dominados. 

    E que, sem perceber, nessa disputa podem não perceber o tempo passando, e então se perder para toda a eternidade.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Colorindo


         

          Gosto de fazer pequenas reformas na minha casa, de vez em quando. Não aquelas reformas em que paredes são destruídas, os pisos são trocados, novos cômodos vão surgindo, outros vão desaparecendo. Gosto de fazer pequenas mudanças. Uma corzinha nova aqui, alguns enfeites novos ali, flores em algum lugar inesperado, talvez algumas mantas ou almofadas novas.

         Parecem mudanças insignificantes, mas não são. São pequenas, mas provocam necessidade de adaptação. Provocam estranheza, sensações novas, um calorzinho no coração quando se abre a porta.

         Essa minha vontade surge normalmente quando tudo está há tanto tempo tão acomodado, que entro em casa e nem percebo mais os detalhes. É tudo tão conhecido, tão previsível, que nem enxergo mais nada. Sequer percebo aquela estatueta que comprei naquela viagem deliciosa e que antes me trazia tão boas recordações.

         Com pequenas alterações, tudo parece novo, e os detalhes surgem novamente. O antigo conforto desaparece, para dar lugar à nossa necessidade de adaptação. E então, parece que o brilho das coisas surge de novo.

         E não é que a vida da gente é assim também? Às vezes temos a sensação de que não estamos vivendo nada de bom, que tudo está muito monótono. Não conseguimos mais enxergar o que conquistamos, o que temos ao nosso redor, e o quanto temos de bonito. Não valorizamos nem quem está ao nosso lado.

         E nessa hora tem gente que resolve destruir tudo, para recomeçar. E outros que preferem se adaptar à monotonia, e viver uma vida morna.

         Pois eu não gosto de nenhum dos extremos. A monotonia é a morte, e acho que destruir tudo só vale a pena quando está realmente ruim, não tem mais conserto. Se está bom, para que destruir? Muitos perdem a chance de desfrutar o que conseguiram, só porque não percebem que às vezes pequenas mudanças são suficientes para colorir tudo de novo.

         Então, penso que antes de reclamar da chatice da nossa vida, o ideal seria fazer pequenas alterações na rotina. O trabalho está chato? Experimente fazer as coisas de modo diferente. As reuniões com os amigos parecem um emprego? Experimente sugerir um passeio inusitado. O relacionamento não tem mais fogo? Experimente sair do sofá e descobrir um hobby novo, uma atividade desafiadora para ser feita a dois.

         Vida boa é vida assim, colorida, com desafios e com paixões. 

        Mas vida muito boa é vida na qual escolhemos nossas cores, os desafios que queremos e as paixões que desejamos.  

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Viver como uma milionária



   Decidi há muito tempo atrás que eu iria viver como uma milionária. Embora isso nunca tenha significado que eu iria efetivamente virar uma milionária.

   Sim, é isso mesmo. Ser milionária é uma coisa, viver como milionária é outra completamente diferente. Existem milionários que nunca vivem como milionários, aliás, existem milionários que nem se dão conta de que são milionários, quem diria viver como um.

  A primeira coisa que pensamos quando nos imaginamos milionários é: oba, vou viajar pra caramba, vou comprar tudo o que eu quero e não vou mais trabalhar.

  E quem foi que disse que precisa ser milionário para viajar pra caramba? É possível sim, viajar muito, nos finais de semana, nas férias, em qualquer brechinha disponível de nosso tempo. É claro que as distâncias e os lugares onde nos hospedamos variam um pouco de acordo com o dinheiro de que dispomos. É óbvio que um hotel 5 estrelas é muito mais confortável que uma barraca num quintal de pescador. E que ir para Paris talvez pareça mais fascinante do que Santa Rita do Passa Quatro, por exemplo. Mas… quem garante que será mais divertido? Viajar depende muito mais do estado de espírito do viajante, de sua disposição em aprender e sair da rotina, do que necessariamente ir a algum lugar. Não considero viagens a Miami com intuito estritamente consumista uma viagem. Isso em nada difere de um passeio normal ao shopping.

  Pois é, viaja pra caramba quem se abre a novos mundos, conhece novas realidades e se diverte, sempre. Quem só conhece o mesmo circuito e tem em outros lugares os mesmos hábitos  que possui em sua casa nunca viajou, só mudou de lugar um pouquinho.

   Comprar tudo o que se quer é uma lenda. Nós nunca vamos ter tudo o que temos, simplesmente porque o desejo humano é infinito. E, se pudermos comprar tudo aquilo que desejamos, passaremos a desejar aquilo que o dinheiro não pode comprar. Simples assim. O segredo está então em escolher nossos desejos. Saber escolher aquilo que temos a capacidade de satisfazer. E nunca, jamais, fazer dívidas. Viver endividado faz com que nos sintamos pobres. Comprar mais do que se pode é imaturidade. Se escolhemos aquilo que temos a capacidade de conseguir, simplesmente nos sentimos milionários. Porque amamos e valorizamos tudo aquilo que temos.

  O pensamento de que milionários não trabalham também é ilusório. Milionários trabalham sim, e muito. A diferença é que não trabalham pelo dinheiro, mas sim pelo prazer de produzir e fazer alguma diferença no mundo. Quem trabalha apenas para acumular dinheiro é pobre, embora possa ganhar muito. Pobre porque nunca está satisfeito com o que tem. E quem não gosta de trabalhar também é pobre. Porque não entrega nada ao mundo. E quem nada entrega, nada recebe. Um milionário trabalha além do que precisa, trabalha apenas porque é bom produzir. A única maneira de se sentir verdadeiramente vivo é produzindo, contribuindo. O dinheiro é mera consequência disso, apenas algo mais em toda a satisfação que se obtém com o trabalho e os benefícios que espalhamos com o nosso trabalho.

  Encontrar prazer e aprender em qualquer viagem que se faça, adaptar os nossos desejos materiais às nossas capacidades e trabalhar muito, com amor, oferecendo aquilo que de melhor possuímos. Venho vivendo assim há tempos, e me sinto milionária. Simples assim. Embora esteja bem longe de me tornar uma milionária…. ou não?

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Para sempre



   Eu acredito em amor de verdade. Daqueles que são para sempre, amores leais. Daqueles que contornam as crises, e sempre sobrevivem, cada vez mais fortes.

   Sei que isso é totalmente fora de moda. A racionalização e a inteligência dos dias de hoje nos informam que isso não existe, que as uniões são instituições fracassadas e que estamos todos fadados a viver em nossa individualidade. Vivamos juntos mas separados, por favor. Juntos enquanto for conveniente. Criam-se então fórmulas para tornar a inevitável separação o menos dolorosa possível, procura-se a proteção da dor antes que ela aconteça.

   Mas acredito ainda no sentimento antigo. Acredito no seja eterno, ainda que enquanto dure. Não acredito que o fim chegará. 

   Por acreditar nisso, nunca tive relacionamentos superficiais. Ou fico solteira, ou me entrego. Tenho personalidade de gato. Não me fortaleço com a companhia, fortaleço a companhia. Amei poucas vezes, mas em todas elas acreditei que era para sempre. Amo com todas as minhas forças, entrego a minha vida para ser dividida e nunca me arrependo. Quando acaba, dói sim, dói muito, parece que um pedaço foi arrancado. Aliás, não parece, o pedaço foi sim arrancado, e esse processo de tirar um pedaço de você mesmo é um dos piores que se pode ter notícia. Mas ainda assim acredito que vale a pena cada tentativa. 

   Talvez eu pense assim porque cresci vendo um casal que se ama e se respeita, profundamente, há mais de 43 anos. Um amor que não é afeito a grandes declarações românticas nem demonstrações de afeto, mas um amor companheiro e leal. Vi meus pais discutindo várias vezes, sim. Mas nunca, nem nos piores momentos, vi uma agressão. Meu pai nunca ameaçou sair de casa e nos abandonar. Nunca ouvi nenhum dos dois falando mal um do outro para mim, mesmo que estivessem morrendo de ódio. Podiam se desentender, mas frente a mim sempre foram um só. Frente a mim e ao resto do mundo. Hoje, velhinhos, a ternura e o cuidado que vejo entre eles me faz acreditar ainda mais no "para sempre".

   Às vezes penso que esse modelo torna minha vida amorosa um tanto difícil. Não consigo compreender as desilusões das pessoas em relação aos casamentos. Não consigo compreender porque tanto se desacredita em relacionamentos amorosos, para que inventar tantos artifícios mirabolantes para não se separar, não enjoar, não gastar, por que tanto medo da rotina. Para mim, parece tão simples…. basta amor e vontade de estar junto. Criatividade, admiração, respeito. Força de vontade, disposição. E, acima de tudo, acreditar que foi feita a escolha certa. Que é aquela pessoa que, dentre tantas no mundo, merece percorrer o caminho com você, sem desvios. Que é aquela pessoa que faz valer a pena abrir mão de tantas outras. Meus amores nunca terminaram por conta da rotina. Terminaram porque os caminhos se desencontraram, de alguma forma. Terminaram porque, em algum momento, achei que não era aquela a escolha certa ainda.

   Estar com alguém dá muito trabalho, sim. Por isso, só vale a pena se for por amor. Senão, melhor estar solteiro, viver aventuras, ter amigos. Amor é uma escolha, é sair de cima do muro. Amor não é para os covardes e indecisos.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Um grude só


         

         Amor bom é amor grudado. Isso mesmo, amor chiclete, amor corda e caçamba, amor tampa de panela. 

         Se a sua parte contrária começa a reclamar por espaço, por um tempo sozinho, diz que está precisando sentir saudade para tornar a relação saudável... provavelmente não está mais tão empolgado assim. Se diz essas coisas logo no começo do relacionamento, então, aí é que não deve estar a fim mesmo!

        Porque quando a gente ama a vontade de estar junto não tem fim. É um tal de querer contar tudo o que se faz, de querer saber o que o outro está fazendo, de querer fazer coisas juntos e também de querer ficar ali quietinho, sabendo que o amor está ao lado.

       É também um ficar enfastiado com as manias, com as chatices, com a bagunça ou com o excesso de organização, com a vontade de querer controlar ou ser controlado, uma irritação sem fim, mas uma incapacidade de ficar separado. É ficar com saudade cinco minutos depois da despedida. É brigar e fazer as pazes logo em seguida.

        É ficar tão grudado que se tem a impressão de desgaste. Mas desgaste é também amor. Não se sente desgaste de quem não se ama, simplesmente porque não ficamos perto de quem não amamos o suficiente para sentir o tal desgaste.

      Mas melhor ainda que amor grudado é amor emparelhado. Sabe aqueles amores em que temos um objetivo em comum? Pode ser um hobby, um trabalho, um ideal. Ou tudo isso junto. Amor emparelhado justifica o amor grudado. Um alimenta o outro.

      Tem coisa melhor que compartilhar uma paixão, ou várias paixões, com seu amor? E comemorar juntos as vitórias, e chorar juntos as derrotas.  E levantar juntos, lutar juntos, aprender juntos. E o melhor de tudo: poder ficar sempre grudado.

       Amor precisa de paixão para viver. Paixão não só um pelo outro, mas paixão pela vida. E paixão pela vida é criar, é construir, é sonhar, é viver. Porque quem não tem paixão nenhuma na vida não vive.  E amar, amar mesmo, só ama quem está vivo.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Portas abertas



    Minha casa é meu ninho, onde cada detalhe foi colocado por mim. Onde cada cantinho tem um pedaço meu de vida. Pintei paredes, coloquei objetos, tirei objetos, escolhi as cores, as almofadas, as flores… Até mesmo cada arranhadura na parede, cada móvel um pouquinho quebrado, faz parte da minha história.

    Não importa o que aconteça, quando chego em casa sinto um abraço. Um abraço em mim mesma. Gosto dos cheirinhos, sinto o carinho dos meus gatos. Nela, parece que nada de ruim pode me acontecer.

    Confesso que, quando vim morar aqui, tive medo. Esta foi a primeira casa onde morei verdadeiramente sozinha. Era a primeira vez que eu iria ser responsável por tudo. Foi assustador, era o fim de uma história e o começo de outra, completamente nova. E eu nem sabia ainda que história queria escrever.

   E tudo foi acontecendo assim, sem planejamento. E muitas, mas muitas coisas mesmo aconteceram. Nesta casa aprendi a ficar sozinha. Sempre gostei de ficar sozinha, mas aqui percebi que eu realmente conseguia ficar sozinha. E aprendi também a encher a casa de amigos, a pedir arrego nas noites tristes, quando não queria dormir sozinha. 

    Fico impressionada ao imaginar o quanto estas paredes viveram. Quanto me viram feliz, quanto me viram triste, quanto me viram enfurecida… E fico imaginando: será que quem entra aqui consegue perceber o quanto de mim está conhecendo?

  Pois é, abrir a casa da gente é como abrir o coração. Mostrar, escancaradamente, quem é você. E ainda quem são seus amigos, quem são seus amores. Está tudo registrado ali, para quem quiser observar.

    Talvez por isso muitas pessoas não gostem de receber pessoas em casa. Tive uma amiga no colégio que tinha pavor de que qualquer pessoa vislumbrasse, pela porta, qualquer detalhe da casa dela. Eu não. Gosto de abrir minhas portas.

   Gosto de dividir o que vivi. Gosto de dividir o que sinto. Não sei me expressar muito bem por palavras faladas, não sei demonstrar afeto. Não sei controlar minha raiva, tenho minhas emoções à flor da pele. Sou ansiosa pela verdade, não consigo fingir, não consigo mentir. Abrir minha casa é abrir meu coração, é pedir que me compreendam apesar das aparências. É pedir que não me vejam, não me escutem, mas sim, me sintam.

   E escrever? Escrever é mostrar meus sentimentos ao desconhecido. É contar minhas histórias, aquelas que somente minha casa registrou, a pessoas que talvez jamais visitem a minha casa. E que talvez jamais cheguem a me conhecer pessoalmente. E que, talvez por isso, compreendam muito mais meus sentimentos e medos do que quem está ali, ao lado, sofrendo as consequências de minha falta de habilidade social, de minhas emoções. Escrever é poder ser matéria bruta, abrir as portas da casa, do coração, da vida.

   Ou talvez seja um mero pedido desesperado de carinho.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Casar ou comprar uma bike?

     

      Ser solteiro é uma delícia. Ou um horror. Assim como ser casado pode ser o paraíso ou o inferno. 

     Ser solteiro significa usufruir de todo o seu egoísmo. Significa que o tempo é todo seu, para estudar, praticar esportes, trabalhar, viajar, sair com os amigos, aliás, sair com quem quiser, na hora que quiser. Significa que a pessoa que você mais ama no mundo é você mesmo. Investir na carreira, crescer, ganhar um dinheiro que é só seu. E com esse dinheiro só seu, comprar as roupas que puder, fazer as massagens que der vontade, freqüentar os restaurantes que escolher, viajar para qualquer parte do mundo, fazer as bobagens que passar pela sua cabeça. 

    Significa chegar em casa e encontrar as coisas exatamente do jeito que você deixou. Fazer a própria bagunça e arrumar quando der vontade. Cozinhar o que quiser, se quiser e na hora que quiser. Escolher se quer ver tv ou ler, dormir no sofá ou na cama, ficar de pernas para o ar ou trabalhar feito uma louca. Escolher se quer ficar bodeada sozinha ou encher a casa de amigos.

    Parece mesmo a descrição do paraíso, não é mesmo? E é sim. Mas então, por que as pessoas casam? Bem, uma grande parte das pessoas se casa porque na realidade elas não dão muita conta do paraíso. Tem solteiro que perde a maior parte do seu tempo procurando alguém, sem se dar conta de que está na companhia de uma pessoa maravilhosa, você mesmo. E aí realmente a solteirice é um inferno. E então se casam para aplacar a suposta solidão, só para ter alguém ao seu lado. O que obviamente não funciona, e passam do inferno da solteirice ao inferno do casamento. 

     Mas casamento pode ser sim, o paraíso. Adoro casamentos de verdade, e o que chamo de casamento não é a instituição, mas o casamento de coração, aquele em que você resolve partilhar a sua vida com alguém. E partilha não porque precisa, muito pelo contrário, mas porque ama. A vida compartilhada é muito complicada, exige respeito, paciência, leniência. Mas vale muito a pena. Provoca um aprendizado e um crescimento diferente daquele que acontece quando estamos solteiros. 

     Ser casado significa fazer concessões, abrir mão de algumas coisas e fazer outras que você não está tão a fim assim. Significa que o espaço e o tempo não é mais todo seu. Significa que as decisões serão tomadas a dois. 

     Parece um horror, mas não é. Ser casado é também acordar com o beijo de quem se ama, é ter alguém para segurar sua mão na hora de dormir. É ter alguém para ligar no meio da tarde para contar uma besteira, alguém para rir de suas bobagens, poder ser ridículo sem ter medo de ser rejeitado. É ter alguém para contar seus planos, para sonhar, para contar o seu dia. É ter alguém ao seu lado vendo tv enquanto você lê. 

    É bom demais ser solteiro, sim. Mas é também bom demais ser casado. Desde que você esteja casado por opção. Porque, parafraseando Renato Russo, casar é trocar a segurança do seu mundo por amor. É uma escolha. 

   Por isso não acredito em meio-termo. Ou assumimos a solteirice ou assumimos ser casados. Qualquer coisa diferente disso é puro medo. Medo de ficar sozinho. E se nem você suporta viver em sua companhia, quem mais suportará, não é mesmo?

segunda-feira, 28 de maio de 2012

E agora, Crisinha?


   Meu paizinho ficou velho. Pois é, aconteceu. Foi devagarinho, eu nem notei direito. As falhas no sistema foram ocorrendo de maneira tão sutil e gradual, que nem me dei conta do que estava acontecendo. Mas agora que percebi tomei um susto.

   A primeira vez que me dei conta disso foi num restaurante. Fui pedir senha para aguardar uma mesa, e a mocinha me disse que daria prioridade porque eu estava com pessoas idosas. Parei e olhei para trás e vi meu pai e minha mãe. Como assim, pessoas idosas? Para os meus olhos ainda eram o meu alicerce, aquele que nunca se rompe, mas a outros olhos eram pessoas idosas. Mas sim, olhei para o meu pai e percebi que realmente alguma coisa era diferente do que sempre foi. 

   Os ouvidos começaram a escutar cada vez menos, e ele, que tinha reflexos tão rápidos, agora dirige devagar. Sabe aqueles velhinhos que atravancam a nossa passagem na rua? Pois é, meu pai, que sempre ultrapassou todos, implacável, agora dirige assim. Aquela curiosidade que sempre me inspirou a aprender, agora também obedece a um ritmo mais lento. O raciocínio demora um pouco, as respostas tardam a vir. As nossas conversas agora são pausadas, para que ele possa compreender e responder depois de pensar um pouco. O corpo que, embora pequeno, sempre foi tão forte e tão disposto, agora se cansa rápido. Sempre tão preocupado com o asseio e a aparência, agora escolhe qualquer roupa no armário para vestir.

   São vários os médicos, vários os remédios, vários os exames, difícil de saber se isso faz bem ou mal. Mas olho para ele e sinto que tudo mudou, mesmo. Difícil de entender, mais difícil ainda de aceitar, embora seja o ciclo natural da vida.

  Esse velhinho é o homem que me ensinou a sonhar correr o mundo, me mostrando lugares tão diferentes e tão distantes num mapa nas manhãs de domingo. Que me levava, com minha mãe,   para passeios em parques nos finais de semana, para que a filhinha única introspectiva e desengonçada se movimentasse um pouco e aprendesse a brincar com outras crianças. Que voltava do trabalho, todos os dias, com um chocolate nos bolsos.  Que me ensinou a andar de bicicleta. Que me acompanhou nos primeiros shows de música da minha vida. Que acordava na madrugada para ir me buscar nas minhas primeiras baladinhas adolescentes. Que sempre foi amado por todos os cães e gatos, da casa, da rua, de qualquer lugar. Que me ensinou a falar a verdade, sempre, mesmo que as conseqüências não fossem boas. Que me ensinou que de nada adianta se dar bem burlando regras e trapaceando. Que sempre me disse para honrar compromissos, mesmo que a vontade fosse de ficar em casa sem fazer nada. Que sempre deixou bem claro que, dentre todas as crianças, eu era a mais importante da vida dele. Que sempre me protegeu, embora nem sempre me defendesse. Que nunca soube abraçar, nem beijar, nem dizer palavras bonitas, mas me ensinou que amor é mais que isso, é cuidado, é presença, é o poder contar, sempre.

  Eu não sei o que fazer. Tenho medo de não saber cuidar dele como ele cuidou de mim. Mas tenho mais medo ainda de que ele perceba que eu estou com tanto medo assim.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Ensina-me a viver



   Sou uma devoradora de livros, desde criança. Devoradora de histórias, veja bem, porque tudo o que é real demais me cansa. Até hoje não consigo me concentrar em leituras técnicas ou descritivas, o interesse fica próximo de zero.

   Gosto mesmo é de gente. Gosto de saber histórias sobre outras pessoas. Gosto de saber como elas pensam, como elas reagem às diversas situações. Gosto de viver outras vidas.

   Porque ler romances tem disso, essa coisa de viver outras vidas. Quer coisa mais fascinante do que ver um personagem numa situação parecida com a sua, e assistir como ele pensa e reage? E ver a si próprio naquela pessoa, cometendo os mesmos erros? Ou encontrando as soluções possíveis? Ou entendendo o porquê de suas reações?

   Alguns personagens são marcantes em minha vida. Todas mulheres fortes e determinadas, claro, cada uma fascinante a seu modo. Cathy, do Morro dos Ventos Uivantes, com sua passionalidade selvagem. Kate, de A leste do Éden, com uma maldade sem igual, acho que nunca houve alguém tão perturbado como ela. Katia, dos Irmãos Karamazov, aparentemente tão passiva mas tão decisiva no rumo da história. Emma, de Um dia, às vezes é tão assustadoramente eu que já até tive medo de ter o seu mesmo fim trágico.

  Tem também os personagens escritores e os cronistas. Clarice Lispector e Danuza Leão que quase me ensinaram a ter pose de fina. Martha Medeiros que parece minha amiga confidente. Lendo Fabrício Carpinejar me sinto menos ridícula e exagerada. Eduardo Galeano tem sonhos de um mundo melhor que fazem meu coração bater mais forte. Anais Nin me irrita mas se parece tanto comigo, às vezes…

   Um livro com uma história ou um causo bem escrito transforma a vida da gente muito mais que um livro de auto-ajuda. Porque auto-ajuda é como conselho de pai e mãe: a gente sabe que tem que fazer daquele jeito, como é o certo, mas a gente escuta e esquece. Porque conselho não foi feito para ser seguido, a gente sempre faz mesmo é aquilo que temos vontade. E não adianta ficar se informando, esquematizando a fórmula ideal daquilo que parece ser correto, lá no fundo mesmo a gente sempre vai querer algo que não tem nada a ver com o correto. E um dia a gente explode, faz tudo errado, e dane-se a auto-ajuda. 

   Já aprender com histórias é outra coisa. Você se vê na situação, parece que vive aquilo. E tem a chance de ver o resultado de suas ações, de fora. E aí entende o que está acontecendo, ou o que não está acontecendo. E vai aprendendo aos poucos a viver. Ou aprendendo a entender a vida. Afinal, só se aprende viver vivendo, e ler histórias é uma chance de testar várias vidas, sem ter que alterar nada na sua própria.

   Engraçado é ser uma leitora tão contumaz e continuar fazendo burradas vida afora. Engraçado nada, trágico. Ou não. Devoradores de livros e seres imaginativos como eu são aqueles que aparentemente cometem mais erros. Mas é que só erra quem vive. E quem lê e imagina muito vive demais, vive tudo intensamente, até o último suspiro. E bate, e volta, e tenta, e erra, e até acerta às vezes, mas não cansa, vai de novo, para sentir, sentir tudo o que se conseguir, e procurar mais respostas, incessantemente. Não consegue jogar nenhum pedacinho de vida por baixo do tapete.

   Quer saber? Eu quero mesmo é viver, viver para conhecer histórias, para contar histórias. Porque quem diz que essa vida é uma só e tem que ser vivida de uma maneira tranqüila e exata são os livros de auto-ajuda. Ah, e o pai e a mãe da gente.