segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Viver como uma milionária



   Decidi há muito tempo atrás que eu iria viver como uma milionária. Embora isso nunca tenha significado que eu iria efetivamente virar uma milionária.

   Sim, é isso mesmo. Ser milionária é uma coisa, viver como milionária é outra completamente diferente. Existem milionários que nunca vivem como milionários, aliás, existem milionários que nem se dão conta de que são milionários, quem diria viver como um.

  A primeira coisa que pensamos quando nos imaginamos milionários é: oba, vou viajar pra caramba, vou comprar tudo o que eu quero e não vou mais trabalhar.

  E quem foi que disse que precisa ser milionário para viajar pra caramba? É possível sim, viajar muito, nos finais de semana, nas férias, em qualquer brechinha disponível de nosso tempo. É claro que as distâncias e os lugares onde nos hospedamos variam um pouco de acordo com o dinheiro de que dispomos. É óbvio que um hotel 5 estrelas é muito mais confortável que uma barraca num quintal de pescador. E que ir para Paris talvez pareça mais fascinante do que Santa Rita do Passa Quatro, por exemplo. Mas… quem garante que será mais divertido? Viajar depende muito mais do estado de espírito do viajante, de sua disposição em aprender e sair da rotina, do que necessariamente ir a algum lugar. Não considero viagens a Miami com intuito estritamente consumista uma viagem. Isso em nada difere de um passeio normal ao shopping.

  Pois é, viaja pra caramba quem se abre a novos mundos, conhece novas realidades e se diverte, sempre. Quem só conhece o mesmo circuito e tem em outros lugares os mesmos hábitos  que possui em sua casa nunca viajou, só mudou de lugar um pouquinho.

   Comprar tudo o que se quer é uma lenda. Nós nunca vamos ter tudo o que temos, simplesmente porque o desejo humano é infinito. E, se pudermos comprar tudo aquilo que desejamos, passaremos a desejar aquilo que o dinheiro não pode comprar. Simples assim. O segredo está então em escolher nossos desejos. Saber escolher aquilo que temos a capacidade de satisfazer. E nunca, jamais, fazer dívidas. Viver endividado faz com que nos sintamos pobres. Comprar mais do que se pode é imaturidade. Se escolhemos aquilo que temos a capacidade de conseguir, simplesmente nos sentimos milionários. Porque amamos e valorizamos tudo aquilo que temos.

  O pensamento de que milionários não trabalham também é ilusório. Milionários trabalham sim, e muito. A diferença é que não trabalham pelo dinheiro, mas sim pelo prazer de produzir e fazer alguma diferença no mundo. Quem trabalha apenas para acumular dinheiro é pobre, embora possa ganhar muito. Pobre porque nunca está satisfeito com o que tem. E quem não gosta de trabalhar também é pobre. Porque não entrega nada ao mundo. E quem nada entrega, nada recebe. Um milionário trabalha além do que precisa, trabalha apenas porque é bom produzir. A única maneira de se sentir verdadeiramente vivo é produzindo, contribuindo. O dinheiro é mera consequência disso, apenas algo mais em toda a satisfação que se obtém com o trabalho e os benefícios que espalhamos com o nosso trabalho.

  Encontrar prazer e aprender em qualquer viagem que se faça, adaptar os nossos desejos materiais às nossas capacidades e trabalhar muito, com amor, oferecendo aquilo que de melhor possuímos. Venho vivendo assim há tempos, e me sinto milionária. Simples assim. Embora esteja bem longe de me tornar uma milionária…. ou não?

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Para sempre



   Eu acredito em amor de verdade. Daqueles que são para sempre, amores leais. Daqueles que contornam as crises, e sempre sobrevivem, cada vez mais fortes.

   Sei que isso é totalmente fora de moda. A racionalização e a inteligência dos dias de hoje nos informam que isso não existe, que as uniões são instituições fracassadas e que estamos todos fadados a viver em nossa individualidade. Vivamos juntos mas separados, por favor. Juntos enquanto for conveniente. Criam-se então fórmulas para tornar a inevitável separação o menos dolorosa possível, procura-se a proteção da dor antes que ela aconteça.

   Mas acredito ainda no sentimento antigo. Acredito no seja eterno, ainda que enquanto dure. Não acredito que o fim chegará. 

   Por acreditar nisso, nunca tive relacionamentos superficiais. Ou fico solteira, ou me entrego. Tenho personalidade de gato. Não me fortaleço com a companhia, fortaleço a companhia. Amei poucas vezes, mas em todas elas acreditei que era para sempre. Amo com todas as minhas forças, entrego a minha vida para ser dividida e nunca me arrependo. Quando acaba, dói sim, dói muito, parece que um pedaço foi arrancado. Aliás, não parece, o pedaço foi sim arrancado, e esse processo de tirar um pedaço de você mesmo é um dos piores que se pode ter notícia. Mas ainda assim acredito que vale a pena cada tentativa. 

   Talvez eu pense assim porque cresci vendo um casal que se ama e se respeita, profundamente, há mais de 43 anos. Um amor que não é afeito a grandes declarações românticas nem demonstrações de afeto, mas um amor companheiro e leal. Vi meus pais discutindo várias vezes, sim. Mas nunca, nem nos piores momentos, vi uma agressão. Meu pai nunca ameaçou sair de casa e nos abandonar. Nunca ouvi nenhum dos dois falando mal um do outro para mim, mesmo que estivessem morrendo de ódio. Podiam se desentender, mas frente a mim sempre foram um só. Frente a mim e ao resto do mundo. Hoje, velhinhos, a ternura e o cuidado que vejo entre eles me faz acreditar ainda mais no "para sempre".

   Às vezes penso que esse modelo torna minha vida amorosa um tanto difícil. Não consigo compreender as desilusões das pessoas em relação aos casamentos. Não consigo compreender porque tanto se desacredita em relacionamentos amorosos, para que inventar tantos artifícios mirabolantes para não se separar, não enjoar, não gastar, por que tanto medo da rotina. Para mim, parece tão simples…. basta amor e vontade de estar junto. Criatividade, admiração, respeito. Força de vontade, disposição. E, acima de tudo, acreditar que foi feita a escolha certa. Que é aquela pessoa que, dentre tantas no mundo, merece percorrer o caminho com você, sem desvios. Que é aquela pessoa que faz valer a pena abrir mão de tantas outras. Meus amores nunca terminaram por conta da rotina. Terminaram porque os caminhos se desencontraram, de alguma forma. Terminaram porque, em algum momento, achei que não era aquela a escolha certa ainda.

   Estar com alguém dá muito trabalho, sim. Por isso, só vale a pena se for por amor. Senão, melhor estar solteiro, viver aventuras, ter amigos. Amor é uma escolha, é sair de cima do muro. Amor não é para os covardes e indecisos.