Gosto de fazer pequenas reformas na minha casa, de
vez em quando. Não aquelas reformas em que paredes são destruídas, os pisos são
trocados, novos cômodos vão surgindo, outros vão desaparecendo. Gosto de fazer
pequenas mudanças. Uma corzinha nova aqui, alguns enfeites novos ali, flores em
algum lugar inesperado, talvez algumas mantas ou almofadas novas.
Parecem
mudanças insignificantes, mas não são. São pequenas, mas provocam necessidade de adaptação. Provocam estranheza, sensações novas, um calorzinho
no coração quando se abre a porta.
Essa
minha vontade surge normalmente quando tudo está há tanto tempo tão acomodado, que entro em casa e nem percebo mais os detalhes. É tudo tão
conhecido, tão previsível, que nem enxergo mais nada. Sequer percebo aquela
estatueta que comprei naquela viagem deliciosa e que antes me trazia tão boas
recordações.
Com
pequenas alterações, tudo parece novo, e os detalhes surgem novamente. O antigo
conforto desaparece, para dar lugar à nossa necessidade de adaptação. E então, parece que o brilho das coisas surge de novo.
E não
é que a vida da gente é assim também? Às vezes temos a sensação de que não
estamos vivendo nada de bom, que tudo está muito monótono. Não conseguimos mais
enxergar o que conquistamos, o que temos ao nosso redor, e o quanto temos de
bonito. Não valorizamos nem quem está ao nosso lado.
E
nessa hora tem gente que resolve destruir tudo, para recomeçar. E outros que
preferem se adaptar à monotonia, e viver uma vida morna.
Pois
eu não gosto de nenhum dos extremos. A monotonia é a morte, e acho que destruir
tudo só vale a pena quando está realmente ruim, não tem mais conserto. Se está
bom, para que destruir? Muitos perdem a chance de desfrutar o que conseguiram,
só porque não percebem que às vezes pequenas mudanças são suficientes para
colorir tudo de novo.
Então,
penso que antes de reclamar da chatice da nossa vida, o ideal seria fazer
pequenas alterações na rotina. O trabalho está chato? Experimente fazer as coisas de modo diferente. As reuniões com os amigos parecem um emprego? Experimente sugerir um
passeio inusitado. O relacionamento não tem mais fogo? Experimente sair do sofá
e descobrir um hobby novo, uma atividade desafiadora para ser feita a dois.
Vida
boa é vida assim, colorida, com desafios e com paixões.
Mas vida muito boa é
vida na qual escolhemos nossas cores, os desafios que queremos e as paixões que
desejamos.