sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Sobre sapos e príncipes


    Hoje o blog faz 2 anos. E lá fui eu dar uma olhadinha no meu primeiro texto, saudosista que sou. Chama-se "Príncipes Encantados não existem". Lembro-me do dia em que escrevi o texto, do dia em que abri o blog e lhe dei o nome. E lembro exatamente do que sentia nesse dia.

    Havia em mim um certo sentimento de revolta: mas que mania as meninas têm de buscar o homem perfeito, ora bolas. Tem que ser mais velho, mais bem sucedido, mais decidido, mais forte, mais estruturado emocionalmente. Praticamente um tutor, alguém que nos protegerá e saberá o que fazer em todas as horas. E de quebra, ainda por cima bonito, alto e cheiroso.

    Aparentemente, alguns homens preenchem esse modelo sim. É em cima deles que todas as mocinhas caem de amores desesperadas, à procura de salvação. Eu nunca me encantei por esses tipos. Nunca acreditei muito neles. Ou talvez tivesse mesmo é medo da concorrência, já que nunca confiei muito no meu poder de sedução, afinal de contas.

   A verdade é que sempre me apaixonei pelos sapos. Os tímidos, os escondidos, aqueles pelos quais ninguém moveria mundos. Mas que mostram aquilo que é privilégio de poucas, muito poucas. Com o decorrer do tempo e com a paciência e sensibilidade necessárias. 

    O problema dos sapos é que eles não salvam você das suas confusões, seus dramas, seus conflitos. Não têm aquela maturidade infinita das histórias dos contos de fada, dos bests sellers, dos filmes hollywoodianos. Eles não são resolvidos, então não espere que resolvam nada para você. E o diabo é que dentro de toda mulher, mesmo desta aqui que vos fala, ainda mora uma Cinderela indefesa querendo ser salva de todos os perigos através de um amor romanesco. 

    É preciso ser muito mulher para amar um sapo. É preciso cuidar mais que ser cuidada. É preciso entender mais que ser entendida. É preciso seduzir mais que ser seduzida. É preciso doar e não esperar receber. É preciso ser estável mesmo durante a TPM. Difícil pra caramba. Difícil e dolorido.

    Qual a vantagem disso então, você deve estar se perguntando. Eu diria que não há vantagem, há uma escolha. Amar um sapo é descobrir aos poucos o que os olhos desatentos não enxergam. É semear um carinho que será recebido da forma mais inesperada, no momento em que menos se espera. É livrar-se de preconceitos e de dogmas que foram incutidos em nossas mentes e nossos corações, quando ainda éramos pequeninas. É amadurecer fazendo o outro amadurecer. É construir um relacionamento único, porque difícil. Difícil porque não é fácil livrar-nos dos papéis que nos foram impostos e não estamos dispostos a cumprir. 

    Louis Lane perto de Clark Kent é uma jornalista forte e decidida. Perto do Super-Homem torna-se uma mocinha frágil e histérica. Super-Homem é de mentira, só sobrevive à base de criptonita. Clark Kent é de verdade. Louis Lane jornalista é real e feliz. Louis Lane mocinha em perigo desempenha um papel determinado há séculos e perde a sua essência.

    O mesmo sapo que inspirou este texto inspirou o nascimento deste blog. Me fez crescer nestes dois anos, enfrentando o conflito diário entre o desejo de ser princesa e o de ser uma mulher como Pilar Del Río. O conflito de amar o Clark Kent e sonhar com o Super-Homem. É, eu sei que ele não queria ser sapo. Acha que eu sonho com o dia em que ele virará príncipe. O que ele não sabe é que jamais seria meu herói e jamais transformaria tanto a minha vida se fosse, simplesmente, um príncipe.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Entre tapas e beijos


   Amor não é paixão. Paixão não é amor. Amor pode existir sem paixão, paixão pode existir sem amor. 

   Paixão não é vestibular do amor. Paixão é paixão, existe e pronto. Pode ser que o amor venha depois, pode ser que não. Pode ser que o amor surja ao mesmo tempo, mas aí ninguém percebe porque a paixão ofusca tudo.  E pode ainda ser que o amor venha antes.

    A paixão é uma madame escandalosa, o amor é um senhor muito discreto.

   Paixão faz as pernas tremerem, amor finca os pés no chão. Paixão faz o pulso acelerar, amor faz a gente sentir um calor no coração. Paixão dá falta de ar, amor faz a respiração ficar tranquila. Paixão tira o sono, amor dá vontade de dormir de conchinha. Paixão é desejo, amor é satisfação. Paixão dá um medo desesperado de perder, amor dá uma sensação boa de ter. Paixão é emocionante, amor é gratificante.

    Paixão não é menos que amor. Nos faz sentir vivos. E amor não é menos que paixão. Amor nos faz vivos. 

   Parecem tão diferentes, e ao mesmo tempo são tão gêmeos. Um quer excluir o outro, mas na realidade adoram mesmo é caminhar de mãos dadas. 

    Normal é sentir paixão primeiro, e depois descobrir o amor. Porque a paixão nasce de um olhar, de um gosto, de uma frase especial, de um não sei o quê que encanta. Encanta e nos faz sonhar. Já o amor nasce do conhecer, do conviver, do gostar de estar junto, do querer mais do que querer, do querer bem. Amor é um querer bem sem fim, paixão é um querer sem fim. Mas não é porque é normal que vai ser assim com todo o mundo.
   
    Bom demais sentir paixão sem amor. Bom também sentir amor sem paixão. Mas sentir amor com paixão, ou paixão com amor é um golpe de sorte… ou de azar. Porque aí você vai desejar loucamente num dia, mas no outro vai querer só ficar quietinho, comendo bolo de fubá e assistindo televisão. Vai fazer loucuras numa noite, para acordar na manhã seguinte com aquele pijama velho e nem se importar com isso.  Vai fazer um jantar especial cheio de velas e almoçar miojo no dia seguinte.

     Pois é, meu amigo. Vai ser difícil explicar para a madame escandalosa que ela finalmente virou uma senhora muito respeitável. E para aquele senhor discreto que ele vai ter que perder a timidez e dançar a macarena de vez em quando. E que eles vão assim viver juntos, dominando e sendo dominados. 

    E que, sem perceber, nessa disputa podem não perceber o tempo passando, e então se perder para toda a eternidade.