quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Um grude só


         

         Amor bom é amor grudado. Isso mesmo, amor chiclete, amor corda e caçamba, amor tampa de panela. 

         Se a sua parte contrária começa a reclamar por espaço, por um tempo sozinho, diz que está precisando sentir saudade para tornar a relação saudável... provavelmente não está mais tão empolgado assim. Se diz essas coisas logo no começo do relacionamento, então, aí é que não deve estar a fim mesmo!

        Porque quando a gente ama a vontade de estar junto não tem fim. É um tal de querer contar tudo o que se faz, de querer saber o que o outro está fazendo, de querer fazer coisas juntos e também de querer ficar ali quietinho, sabendo que o amor está ao lado.

       É também um ficar enfastiado com as manias, com as chatices, com a bagunça ou com o excesso de organização, com a vontade de querer controlar ou ser controlado, uma irritação sem fim, mas uma incapacidade de ficar separado. É ficar com saudade cinco minutos depois da despedida. É brigar e fazer as pazes logo em seguida.

        É ficar tão grudado que se tem a impressão de desgaste. Mas desgaste é também amor. Não se sente desgaste de quem não se ama, simplesmente porque não ficamos perto de quem não amamos o suficiente para sentir o tal desgaste.

      Mas melhor ainda que amor grudado é amor emparelhado. Sabe aqueles amores em que temos um objetivo em comum? Pode ser um hobby, um trabalho, um ideal. Ou tudo isso junto. Amor emparelhado justifica o amor grudado. Um alimenta o outro.

      Tem coisa melhor que compartilhar uma paixão, ou várias paixões, com seu amor? E comemorar juntos as vitórias, e chorar juntos as derrotas.  E levantar juntos, lutar juntos, aprender juntos. E o melhor de tudo: poder ficar sempre grudado.

       Amor precisa de paixão para viver. Paixão não só um pelo outro, mas paixão pela vida. E paixão pela vida é criar, é construir, é sonhar, é viver. Porque quem não tem paixão nenhuma na vida não vive.  E amar, amar mesmo, só ama quem está vivo.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Portas abertas



    Minha casa é meu ninho, onde cada detalhe foi colocado por mim. Onde cada cantinho tem um pedaço meu de vida. Pintei paredes, coloquei objetos, tirei objetos, escolhi as cores, as almofadas, as flores… Até mesmo cada arranhadura na parede, cada móvel um pouquinho quebrado, faz parte da minha história.

    Não importa o que aconteça, quando chego em casa sinto um abraço. Um abraço em mim mesma. Gosto dos cheirinhos, sinto o carinho dos meus gatos. Nela, parece que nada de ruim pode me acontecer.

    Confesso que, quando vim morar aqui, tive medo. Esta foi a primeira casa onde morei verdadeiramente sozinha. Era a primeira vez que eu iria ser responsável por tudo. Foi assustador, era o fim de uma história e o começo de outra, completamente nova. E eu nem sabia ainda que história queria escrever.

   E tudo foi acontecendo assim, sem planejamento. E muitas, mas muitas coisas mesmo aconteceram. Nesta casa aprendi a ficar sozinha. Sempre gostei de ficar sozinha, mas aqui percebi que eu realmente conseguia ficar sozinha. E aprendi também a encher a casa de amigos, a pedir arrego nas noites tristes, quando não queria dormir sozinha. 

    Fico impressionada ao imaginar o quanto estas paredes viveram. Quanto me viram feliz, quanto me viram triste, quanto me viram enfurecida… E fico imaginando: será que quem entra aqui consegue perceber o quanto de mim está conhecendo?

  Pois é, abrir a casa da gente é como abrir o coração. Mostrar, escancaradamente, quem é você. E ainda quem são seus amigos, quem são seus amores. Está tudo registrado ali, para quem quiser observar.

    Talvez por isso muitas pessoas não gostem de receber pessoas em casa. Tive uma amiga no colégio que tinha pavor de que qualquer pessoa vislumbrasse, pela porta, qualquer detalhe da casa dela. Eu não. Gosto de abrir minhas portas.

   Gosto de dividir o que vivi. Gosto de dividir o que sinto. Não sei me expressar muito bem por palavras faladas, não sei demonstrar afeto. Não sei controlar minha raiva, tenho minhas emoções à flor da pele. Sou ansiosa pela verdade, não consigo fingir, não consigo mentir. Abrir minha casa é abrir meu coração, é pedir que me compreendam apesar das aparências. É pedir que não me vejam, não me escutem, mas sim, me sintam.

   E escrever? Escrever é mostrar meus sentimentos ao desconhecido. É contar minhas histórias, aquelas que somente minha casa registrou, a pessoas que talvez jamais visitem a minha casa. E que talvez jamais cheguem a me conhecer pessoalmente. E que, talvez por isso, compreendam muito mais meus sentimentos e medos do que quem está ali, ao lado, sofrendo as consequências de minha falta de habilidade social, de minhas emoções. Escrever é poder ser matéria bruta, abrir as portas da casa, do coração, da vida.

   Ou talvez seja um mero pedido desesperado de carinho.