segunda-feira, 29 de abril de 2013

Pode esperar, eu consigo!



Valorizo pessoas que colocam suas expectativas sobre mim. Ter expectativas sobre alguém significa confiar, acreditar nesse alguém. Significa valorizar tanto a ponto de acreditar que essa pessoa fará mais que as outras, nos surpreenderá.

Deposito expectativas sobre quem amo. Deposito, e muitas, acredito que quem eu amo é o ser humano mais brilhante nesta terra. Espero dele os atos mais grandiosos, pois sei que é capaz disso. Afinal, amar tem um quê de admiração, pelo menos para mim. E como admirar alguém de quem nada se espera? Alguém que está tão dentro da média que nada de novo será capaz de fazer? 

E como amar alguém sem esperar que seja o mais inteligente, o mais sensível, o mais gentil? Como perdoar os erros se não esperamos que essa pessoa será capaz de reverte-los, se não tivermos essa certeza interna de que os erros são pequenos diante de tudo o que esperamos de tão bom dessa pessoa, dessa pessoa que é tão maravilhosa que nos faz querer ser ainda melhores?

Não, não consigo conviver com quem nada espera de mim. Quem nada espera de mim não se importa com meus defeitos, mas também não vê minhas qualidades. Quem nada espera de mim não acredita que eu possa realizar mais do que realizo hoje. Quem nada espera de mim acha que tudo está bom como está. Quem nada espera de mim não se decepciona comigo. Quem não se decepciona comigo não me faz mudar. Quem não se decepciona comigo não me mostra as minhas falhas. Quem não me mostra minhas falhas me faz adormecer em um doce e venenoso conforto.

Imagino o que eu seria se minha mãe não tivesse esperado tanto de mim. Jamais teria aprendido a lutar para não fracassar se eu não tivesse temido tanto decepciona-la. Se ela não acreditasse tanto que eu pudesse ser melhor do que aquilo do que ali estava. E o que seria de mim se eu, ainda hoje, não temesse tanto decepcionar aqueles que tanto esperam, e que tanto acreditam em mim. 

Quem ama incomoda, quem ama impulsiona. E quem ama não quer decepcionar, quer dar o melhor de si. É essa a graça do amor, é isso que faz dele um sentimento tão essencial em nossas vidas. É o amor que nos faz querer ser cada vez melhores. É o medo de decepcionar quem nos ama que nos faz olhar para nós mesmos, e assim crescer. Amor não vive de elogios, amor vive de provocações. Amor vive do despertar, e não do adormecer.

Não depositar expectativas é fácil, é um anestésico. Tudo é surpresa, tudo é lucro. Vive-se tranquilamente. Mas quem não se movimenta está na realidade morto.
  

sexta-feira, 12 de abril de 2013

É mentira!




Mentiras são aquelas cerejinhas que colocamos em cima do bolo para desviar a atenção da cobertura que não ficou assim tão perfeita. Mentimos o tempo todo, nem adianta dizer que não. Até o mais honesto dos mortais diz e comete pequenas mentiras, nem que seja a si mesmo. 

Passar rímel nos cílios é uma mentirinha, pois faz com que nossos olhos pareçam maiores do que são. Cantar uma música alegre quando se está triste também. Rir de uma piada muito sem graça. Confirmar para seu amigo que o trabalho dele está bem feito, quando você olha e sabe que está uma porcaria. Dizer eu te amo só para ver o outro sorrir. Fingir que está gostando de uma festa quando está odiando tudo. Dizer que gracinha para aquela criança insuportável que é o filho do seu chefe.

Escritores, poetas, compositores, atores, são os maiores mentirosos. Fingem sentir algo e nos convencem que é verdade. A Arte é uma mentira. Através dela o artista finge uma dor imensa, uma alegria infinita, um amor inexplicável. Os sentimentos gerados por uma música, uma pintura, um filme, nada mais são do que mentiras criadas para nos seduzir e nos envolver. Mentiras deliciosas.

Mentir é necessário, já que a verdade às vezes é um pouco sem graça. As mentiras tornam a realidade suportável.

Problema é mentir demais a si mesmo, a ponto de perder a realidade. Às vezes, por ser tão duro olhar para dentro de nós mesmos, criamos histórias que nos fazem felizes. Criamos aquilo que gostaríamos de ser. Criamos e nos enebriamos dessa sensação, que é tão reconfortante. Sim, é muito bom representar aquilo que consideramos o ideal.

Mas é que nem sempre a cerejinha do bolo consegue disfarçar a cobertura mal feita. Ela pode até desviar a atenção dos defeitos por algum tempo, mas dependendo do tamanho da falha, ela vai continuar ali, e será descoberta um dia. E uma vez descoberta a falha, ela atrai os olhos, como um ímã. 

Então, não adianta. Por vezes é necessário refazer a cobertura, ou até o bolo inteiro. Descobrir o que está errado, mesmo que o trabalho seja árduo. Mudar a medida dos ingredientes, alterar alguns deles, retirar outros, substituir alguns. Não ter medo de admitir os erros, não se esconder. Ter a consciência de que de nada adianta que o bolo pareça delicioso, se na realidade ele não for realmente delicioso. E que, embora nos dias de hoje pareça que uma bela propaganda faz com que o bolo torne-se delicioso, na realidade todos sabemos que não é bem assim que acontece. Bastante duro o caminho do refazer, o caminho daqueles que sabem que tudo o que é sólido demanda tempo, trabalho, paciência.

Mentimos para tornar aquilo que achamos feio mais bonito. Mentimos, mentimos o tempo todo, para não ter que olhar aquilo que mais nos desagrada. Mentimos na vã esperança de nos transformar, de fora para dentro. Mentimos para não nos odiarmos. Mentimos porque temos pressa em ser felizes.