Estou reaprendendo a nadar. Pois é, nado desde criança e descobri agora que minhas braçadas são horríveis, por isso o deslize é tão ruim. E aí, vamos lá mudar tudo. Exercícios educativos e mais exercícios, cheguei a sair da piscina em alguns dias com dores de cabeça, de tanto que é complicado ordenar ao próprio corpo que faça algo que ele sempre fez de determinada maneira, de maneira diferente. Por várias vezes pensei em desistir, aliás por várias vezes no meio do treino acabava por me ver repetindo os gestos antigos, tão mais confortáveis.
Vontade mesmo era de deixar pra lá, sempre funcionou, ora essa. Mas o meu espírito caxias não quis desistir, persisti, e olha que no final da semana, no sábado somente, consegui realizar os movimentos, e que surpresa! O nado tornou-se muito mais agradável. Ainda há muito o que treinar, até que os novos movimentos sejam incorporados. Se eu nadar rápido, minhas braçadas ainda retornarão aos movimentos antigos, tão mais introjetados em minhas células.
Parece uma besteira, mas o fato é que a novidade não sai da minha cabeça. Fiquei pensando em como é difícil mudar nossos condicionamentos, aquelas coisas que aprendemos que devem ser feitas de determinada forma em nossa história de vida, mas que nem sempre nos levam à felicidade. Muitos de nossos comportamentos não foram escolhidos, mas impostos pelas circunstâncias em que crescemos.
Por exemplo, todas nós, meninas, fomos condicionadas a acreditar em príncipes encantados. Que em algum lugar da terra um príncipe nos procura, e irá nos salvar de nossos problemas. E que, quando ele finalmente aparecer e nos resgatar, só então seremos felizes para sempre. Enquanto isso não acontece, estamos adormecidas, aprisionadas. Pois é. Por mais independentes que tenhamos nos tornado, acreditamos nisso. Lógico que algumas em grau menor, outras em grau maior. Tudo depende do quanto de energia você utilizou para mudar essa crença. Essa é a minha maior luta, matar a princesa que existe em mim. Sem perceber, me vejo muitas vezes clamando por socorro, acreditando que um príncipe virá me salvar. Mas de repente, algo me diz que isso não irá acontecer, e sim, a consciência (ufa) aflora e passo a resolver os meus problemas. Vivo assim, nesse jogo de princesa e mulher, o tempo todo.
O problema é que, no caso da natação, existem exercícios educativos. E na vida? A vida não tem exercícios, a vida dá mesmo é porrada, de frente, se segura querida. Quanto mais difícil o seu aprendizado, mais porradas você levará. Cabe a você a escolha, pois. Você pode passar a vida inteira levando porradas. Ou você pode aprender que é possível desviar delas. Basta mudar a braçada. Talvez sejam mínimos detalhes. Talvez seja algo imenso. Talvez você tenha que mudar tudo. Depende do tamanho da porrada, é claro. Aliás, quanto maior a porrada, tenha a certeza, maior é a probabilidade de você estar fazendo tudo muito errado.
Portanto, se você está apanhando demais, reflita. Algo está errado. Mude. Reaprenda. Faça algo surpreendente. Se vai doer? Vai, e muito. Vai doer quase a mesma coisa que as porradas que você tem levado. Vai ser difícil pra caramba, vai dar vontade de desistir, voltar para a segurança do caminho já conhecido. A única diferença é que, quando você aprender o movimento correto, essa dor vai desaparecer. Mas para quem continua no movimento errado, eternas serão as pancadas. E não adianta reclamar.