quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Orquídeas




E de repente, minha orquídea floresceu lindamente. Para o meu completo espanto, já que nunca cuidei dela desde que as últimas flores se foram. Ganhei a planta no meu aniversário do ano passado, de alguém muito querido. Mas as flores se foram, e me esqueci completamente dela, deixei-a simplesmente em minha varanda, ao sabor do sol, chuva e vento.

Não sei cuidar de algo tão delicado como plantas, elas não reclamam nem demandam atenção como os meus gatos, e por isso acabo me esquecendo delas. Só me dou conta de que estão descuidadas quando vejo folhas que deveriam ser verdes, tornando-se amareladas. Admito, é uma completa incapacidade de cuidar daquilo que não clama minha atenção.

Mas para minha surpresa, a orquídea, tão delicada, floresceu. Uma planta que, em sua origem, nasce em qualquer canto, em lugares inóspitos, e sobrevive daquilo que existe em seu ambiente, aproveita-se daquilo que lhe é oferecido, e devolve, em troca do pouco que recebe, flores lindas, genuínas e muito resistentes. Sim, existe mais este detalhe a respeito das orquídeas. Suas flores resistem mais do que quaisquer outras.

E não é que a vida é também desse jeito? Tudo o que é bom acontece sem esforço, de maneira natural, sem que percebamos que está acontecendo. Contornamos um probleminha aqui e ali, um contratempo qualquer, e, de repente, sem perceber, temos algo grandioso em nossas mãos. E nem notamos que estávamos construindo algo. Assim, são os grandes amores, as grandes amizades, os grandes trabalhos, as grandes conquistas de nossa vida. 

Mas já que é de amores que gostamos de falar, vamos falar de amor. Pois então, lembre-se de uma história de amor boa da sua vida. Amor bom surge devagarinho, normalmente a partir de uma conversa descompromissada, em que não estávamos pensando em seduzir. Estávamos ali, de cara lavada, calça jeans, camiseta branca, o perfume do banho apenas, rindo de qualquer coisa, contando qualquer história sobre nada. Ninguém pensava em impressionar, então nem havia a necessidade de mostrar o seu melhor lado. Ninguém também estava interessado em concordar com as idéias do outro, já que ninguém estava preocupado em agradar. E a conversa fluía, sem pé nem cabeça, um deboche só. E aquela pessoa até irritava um pouquinho, que pedante, quem ela pensa que é, para me contrariar tanto desse jeito. Mas mesmo assim, foi tão gostoso que deu vontade de repetir. E você começa a repetir cada vez mais, e é com aquela pessoa que você percebe que perde o senso do ridículo, e com quem você tem as discussões políticas, comportamentais e ideológicas mais absurdas. E às vezes você nem suporta a pessoa, mas mesmo assim, é com essa pessoa que você produz as flores mais lindas e resistentes. Nas condições mais inóspitas. Pois é, foi natural, você nem queria se apaixonar por aquela pessoa, aliás, no começo você até pensou, que pessoa esquisita, mas é que no fundo você sabia que era esquisito também.  

Flores esplendorosas até surgem em condições pouco naturais, a partir dos cuidados, da adaptação climática, do adubo correto na hora correta, da água devidamente tratada, da reposição dos sais minerais em sua terra. Surgem, são lindas, mas não são duradouras. Se você esquecer de algum detalhe, provavelmente colocará tudo a perder. E o processo deve reiniciar, e uma hora você se cansa, tanta energia gasta. 

Por isso estou tão apaixonada pelas lindas flores da minha orquídea. Elas surgiram para alegrar a minha casa simplesmente, apesar da dona maluca, distraída e descuidada. Mostraram que estão ali, por elas mesmas, e eu não tive que realizar mudança drástica nenhuma em mim mesma para que elas sobrevivessem. 

O natural da vida é ser natural. Ficamos nos inventando todos os dias, nos forçando a nos adaptar, a agradar, a ser aceitos, mas, na verdade, basta apenas existir, do jeito que você é. E produzir suas mais lindas flores com tudo aquilo que estiver ao seu redor. E para isso, basta se reconhecer naquilo que está ao seu redor.