terça-feira, 30 de novembro de 2010

Meninas más que eu amo

Resolvi criar uma série sobre meninas más que amo.
E a primeira, não poderia deixar de ser, é Lily, de Mário Vargas Llosa, que inspirou o nome desse blog. Apaixonante e odiável ao mesmo tempo, ninguém consegue dizer se ela é vilã ou vítima. Afinal, é uma menina verdadeiramente má.
Segue uma resenha lindíssima feita por Fernanda Guimarães. Concordo com ela em gênero, número e grau.

Travessuras da menina má: o amor maior do mundo

Postado por O Livreiro em 17 de maio, às 09:44 em Amigos, Resenha das resenhas  |  Comentários (12)
capa livro
Capa do livro Travessuras da Menina Má
Olha, essa é uma menina muito má mesmo. Fez um homem sensato chamado Ricardo dedicar uma a vida inteira a procurá-la pelo mundo. E ser rejeitado de maneiras horríveis. E nunca desistir. O livro é sobre isso, sobre o amor mais verdadeiro de todos que já se viu. Mais que Romeu e Julieta.
Dá pra resumir de um jeito bem novelístico. Ricardo é um peruano que conhece uma menina pobre e faceira, nos anos 50, em Lima. Ela se chamava Lily. O romance não foi muito bem, mas ele nunca conseguiu tirar Lily do pensamento. Mesmo quando a encontrou com outros nomes, personalidades, histórias, destinos, maridos, ideias de vida. E Ricardo passa A VIDA TODA apaixonado e pisoteado pela mesma mulher. Os nomes que ela adotou foram vários: Madame Arnoux, a japonesa Kuriko, Mrs. Richardson, Lucy Solórzano Cajahuaringa, a guerrilheira Arlette, nossa, uma vida sem limites. E em todos os lugares do mundo.
É um livro muito viciante. De todas as mulheres que lêem, todas viciam. Você fica muito dividida entre achar Ricardo um otário, um romântico que você quer pra você, a menina muito má, a menina muito sofrida, o amor muito injusto. O destino muito cruel.
Claro que não vou contar o fim, mas tenho que dizer que vale a espera. São tantos reencontros que o último tinha que ser mesmo o mais especial. Considero uma obra prima dos romances.
mario vargas llosa
O autor Mario Vargas Llosa
Vale também prestar atenção na riqueza de detalhes que o autor, Mario Vargas Llosa, colocou na narrativa. Como já falei, a menina má mora durante a história em vários lugares diferentes e em épocas distintas. A maneira como ele detalha cada esquina, de cada lugar, Lima, Paris, Londres, Toquio, Madri, em cada ano, com os momentos históricos, a situação política, com cada olhar dessa menina me faz até pensar que o personagem é ele. E se sim, Mario Vargas Llosa sofreu mesmo de amor. E é historiador nas horas vagas.
Um livro pra morrer de amor.
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fevv
*Fernanda Guimarães dirige programas na MTV, e é roteirista. Escreve no blog Sem Dúvida, mas que está em hiato. Enquanto isso, coloca fotos e pensa na vida no Tumblr Tudo que eu Queria. O que mais lê é sobre jardinagem e casos de psicanálise, mas também tem convívio social.
E eis que era um amor
Tão grande, grande, muito grande
Não cabia em lugar nenhum
Então
Explodiu.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Príncipes Encantados não existem

            Estou tentando terminar de ler "Comer, Rezar, Amar". O livro foi muito bem no caderno "Comer". Divertidíssimo, leve, deu vontade de fazer as malas e correr pra Itália. No caderno "Rezar", algumas sacadas bacanas, desde que se abstraia o tom espiritualista da coisa. Mas, para mim, o caderno "Amar" apenas devolveu a mocinha narradora ao início da história. Ora, pra que passar um ano percorrendo novas culturas, se tudo o que ela queria era apenas esquecer um amor para encontrar outro? A sensação que tive foi apenas essa. O ciclo percorrido por ela foi o seguinte: amor medíocre, seguido de paixão arrebatadora, seguida de pausa para dor e reflexão, seguida pelo amor redentor e verdadeiro. E eis que surge o Príncipe Encantado, perfeito, compreensivo, galante, apaixonado, que não nota a celulite do seu corpo, ama o fedorzinho de seu suor e diz o tempo todo para a mocinha que ela é linda, perfeita e maravilhosa. Que só quer permissão para adorar cada parte de seu corpo.

            Sou uma romântica incurável, amo com todas as minhas forças, e acredito (pasmem!) em amor para toda a vida. Sou capaz de loucuras por quem amo. Amar, para mim, é irracionalidade, não tem lógica nem explicação. Mas odeio Príncipes Encantados. Aquele ser perfeito que existe somente para nos idolatrar. Aquele ser que é a redenção para todos os pecados. Que nos salva de todas as nossas dúvidas e mazelas cotidianas. Que nos conforta a todo instante.

            E por que, você estaria se perguntando, alguém odiaria um ser que nos ama exatamente como somos, sem qualquer restrição, e nos conforta o tempo todo?

            Primeiro, simplesmente porque esse ser humano não existe. Príncipes encantados são aqueles seres que criamos em nossa mente para suprir todas as nossas carências e expectativas. São aqueles seres que não falam por si mesmos, mas simples fantoches criados por nós mesmas. Eles são perfeitos porque nós os criamos.

             Segundo, porque são altamente deseducativos. Ora, alimentar a ilusão de que em algum lugar do mundo exista um ser humano que seja exatamente do jeito que sonhamos é um crime contra a humanidade.

            Terceiro, e o mais importante, é que, mesmo se eles existissem, seriam altamente prejudiciais. Precisamos ultrapassar nossos limites, precisamos de alguém que nos desafie e nos mostre onde falhamos e onde podemos ser mais. Só crescemos quando nos deparamos com nossas deficiências. São aqueles pontos que doem, que queremos esconder, que nos impedem de evoluir. Não estou defendendo a grosseria nem a falta de cavalheirismo, que fique bem claro. Defendo o espelho. Aquele que nos observa quando estamos bonitas, mas também quando estamos inchadas e com a pele maltratada, o cabelo ressecado. Ele nos observa e nos diz: "ei mocinha, você pode muito mais que isso aí que eu estou vendo". Sim, ele é odiável às vezes. Nos faz chorar. Dá vontade de jogar fora e esquecer que ele existe, continuar vivendo na conchinha confortável. Mas não faça isso. Arrume-se e enfrente-o de novo. Você vai gostar do resultado.