segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Príncipes Encantados não existem

            Estou tentando terminar de ler "Comer, Rezar, Amar". O livro foi muito bem no caderno "Comer". Divertidíssimo, leve, deu vontade de fazer as malas e correr pra Itália. No caderno "Rezar", algumas sacadas bacanas, desde que se abstraia o tom espiritualista da coisa. Mas, para mim, o caderno "Amar" apenas devolveu a mocinha narradora ao início da história. Ora, pra que passar um ano percorrendo novas culturas, se tudo o que ela queria era apenas esquecer um amor para encontrar outro? A sensação que tive foi apenas essa. O ciclo percorrido por ela foi o seguinte: amor medíocre, seguido de paixão arrebatadora, seguida de pausa para dor e reflexão, seguida pelo amor redentor e verdadeiro. E eis que surge o Príncipe Encantado, perfeito, compreensivo, galante, apaixonado, que não nota a celulite do seu corpo, ama o fedorzinho de seu suor e diz o tempo todo para a mocinha que ela é linda, perfeita e maravilhosa. Que só quer permissão para adorar cada parte de seu corpo.

            Sou uma romântica incurável, amo com todas as minhas forças, e acredito (pasmem!) em amor para toda a vida. Sou capaz de loucuras por quem amo. Amar, para mim, é irracionalidade, não tem lógica nem explicação. Mas odeio Príncipes Encantados. Aquele ser perfeito que existe somente para nos idolatrar. Aquele ser que é a redenção para todos os pecados. Que nos salva de todas as nossas dúvidas e mazelas cotidianas. Que nos conforta a todo instante.

            E por que, você estaria se perguntando, alguém odiaria um ser que nos ama exatamente como somos, sem qualquer restrição, e nos conforta o tempo todo?

            Primeiro, simplesmente porque esse ser humano não existe. Príncipes encantados são aqueles seres que criamos em nossa mente para suprir todas as nossas carências e expectativas. São aqueles seres que não falam por si mesmos, mas simples fantoches criados por nós mesmas. Eles são perfeitos porque nós os criamos.

             Segundo, porque são altamente deseducativos. Ora, alimentar a ilusão de que em algum lugar do mundo exista um ser humano que seja exatamente do jeito que sonhamos é um crime contra a humanidade.

            Terceiro, e o mais importante, é que, mesmo se eles existissem, seriam altamente prejudiciais. Precisamos ultrapassar nossos limites, precisamos de alguém que nos desafie e nos mostre onde falhamos e onde podemos ser mais. Só crescemos quando nos deparamos com nossas deficiências. São aqueles pontos que doem, que queremos esconder, que nos impedem de evoluir. Não estou defendendo a grosseria nem a falta de cavalheirismo, que fique bem claro. Defendo o espelho. Aquele que nos observa quando estamos bonitas, mas também quando estamos inchadas e com a pele maltratada, o cabelo ressecado. Ele nos observa e nos diz: "ei mocinha, você pode muito mais que isso aí que eu estou vendo". Sim, ele é odiável às vezes. Nos faz chorar. Dá vontade de jogar fora e esquecer que ele existe, continuar vivendo na conchinha confortável. Mas não faça isso. Arrume-se e enfrente-o de novo. Você vai gostar do resultado.



           

3 comentários:

  1. "When you start to know someone, all their physical characteristics start to disappear. You begin to dwell in their energy, recognize the scent of their skin. You see only the essence of the person, not the shell. That’s why you can’t fall in love with beauty. You can lust after it, be infatuated by it, want to own it. You can love it with your eyes and your body but not your heart. And that’s why, when you really connect with a person’s inner self, any physical imperfections disappear, become irrelevant."

    ResponderExcluir
  2. Adorei o texto! E eu acho q é isso ai mesmo, acredito em amor pra vida inteira e acredito em príncipes sem o cavalo branco e a armadura ( a lança a gente deixa hehehe), acho q o princípe é o cara normal, q a gente ama APESAR dos defeitos.
    beijos!! =D

    ResponderExcluir
  3. Nada a declarar! A-M-E-I!!!!!! Falou e disse, assino embaixo. bjsssssssss

    ResponderExcluir