segunda-feira, 4 de julho de 2011

Sonhos da meia-noite

           
            Assisti "Midnight in Paris", de Woody Allen, pela segunda vez, e saí do cinema com a mesma sensação boa que tive na primeira. Dizer que Paris é um sonho é clichê, mas ora bolas, Paris é mesmo uma cidade onde se tem vontade de sonhar. Não é à toa que é a cidade preferida de escritores, pintores, músicos. E o herói da história, Gil Pender, também é o mais clichê dos sonhadores, quase infantil, mas como ele nos torna felizes! Gil é um escritor de roteiros hollywoodianos doce, ingênuo, e sonha com a beleza de um tempo onde a arte, a liberdade e a transgressão floresciam por todos os cantos. Só que ele mesmo não consegue tirar os pés do chão, o que acaba travando a sua escrita e por consequência, a sua vida. Afinal, voar é um tanto quanto perigoso, e tão mais fácil escrever roteiros de fácil aceitação pelo público, que por sua vez também adora o divertimento previsível e efêmero…

        Em seus devaneios, conhece os artistas da Paris dos anos 20 tal e qual seriam em sua imaginação. Livres, espontâneos, sem rédeas, autênticos. Totalmente desprendidos das conseqüências de seus atos e dispostos a viver profundamente todas e quaisquer sensações que a vida pode proporcionar, sem qualquer medo. Aliás, essa é a função da arte, não? Mostrar que é possível ir além do que parece real. É a vida tal e qual Gil adoraria que fosse.

        Gil é apaixonante porque é um pouquinho de todos nós. Quantas coisas não gostaríamos de fazer, quantos sonhos não gostaríamos de viver e não vivemos, apenas por medo de tirar os pés do chão? Por ter medo das conseqüências, acabamos nos adaptando àquilo que é palpável e aparentemente seguro. O seguro nos parece confortável, e por isso não nos desprendemos daquele caminho que já foi percorrido tantas vezes por outras pessoas, sem nos dar conta de que o caminho talvez nem seja agradável.

        O filme é uma apologia ao prazer e à liberdade, e por isso é inevitável sair do cinema com um sorriso no rosto. Viver é simples, não é necessário tanto planejamento. As coisas se ajeitam se você permitir que elas aconteçam, embora todos pensem que o ideal é ter controle sobre as situações. Como controlar a nossa vida, que é  algo que simplesmente não conhecemos, e estamos vivendo pela primeira vez? A vida é feita de primeiras vezes, e penso que quanto mais primeiras vezes nos permitirmos sentir, tanto mais da vida será vivida.

        Simples, muito simples. Basta deixar acontecer e aprender o que fazer com isso. E sonhar. Sonhadores conseguem ir muito além de quaisquer limites

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