domingo, 11 de dezembro de 2011

E nunca houve uma mulher como Gilda!

        Morro de inveja de mulheres sedutoras. Nunca consegui ser uma, e não foi por falta de vontade. Quando eu era criança, gostava de imaginar que tipo de mulher eu me tornaria. Talvez por influência da TV e do cinema, sonhava em ser algo como a Gilda, de Rita Hayworth. Aquela mulher que já acorda com as ondas perfeitas no cabelo e tem os cílios postiços de nascença. Que se movimenta feito um cisne, linda e elegante, indiferente a tudo. Alguém consegue imaginar Gilda em um ângulo desfavorável? Ou no banheiro, como todas as simples mortais?

        Não, Gilda é sempre linda. Seus movimentos são perfeitos, seus olhares são arrebatadores, seu sorriso derrete qualquer machão. O curioso é que mesmo assim é infeliz.

        Na realidade, em nosso imaginário tanto faz se Gilda é ou não infeliz, e quais os seus motivos para isso. Motivos para infelicidade, todos nós temos, em maior ou menor propensão. E já que é assim, melhor pagar o preço dessa infelicidade, se o resultado é ser tão linda e ter o mundo aos seus pés.

        Fiquei então pensando o que faria algumas pessoas mais sedutoras que as outras. Seduzir tem toques de magia. O sedutor consegue criar uma atmosfera de fantasia, algo irreal. Ele seduz porque inebria. E quem inebria, faz com que o inebriado não aja mais por si só, mas apenas em busca da manutenção dessa fantasia.

        Pessoas excessivamente transparentes, tais como a desengonçada que vos escreve, jamais serão sedutoras. Não sabemos criar esse ambiente fantástico, o tal jogo do cobre e descobre, o mistério que cega e anestesia, o mecanismo de punição e recompensa. O sedutor nunca diz o que pensa, ele insinua, deixa a vítima em constante dúvida, controla sua mente nesse jogo de adivinhação eterna. O ser humano não consegue conviver com a dúvida. Quando instalamos a dúvida, prendemos, acorrentamos.

        Só que acorrentar não é o mesmo que ser amado. Talvez por isso Gilda seja infeliz. Talvez seja difícil conviver com o vazio dessa irrealidade que o sedutor cria ao redor de si mesmo. Talvez esse estado constante de dúvida atormente ainda mais o sedutor que o seduzido. Talvez porque os seduzidos, quando despertam, voltam-se violentamente contra o sedutor. E isso acontece tanto no amor, quanto nas amizades, quanto nos negócios.

        Vai ver então que é melhor apenas conquistar. Mostrando a alma, os defeitos, as qualidades. Conquistar, diferentemente de seduzir, é ganhar a confiança. É mostrar que você está ali, de coração aberto, na hora que o outro precisar. Conquistar não exige beleza, charme ou inteligência, exige apenas sinceridade. E quem é sincero pode não ser idolatrado, mas é sim, verdadeiramente, amado.

        É, fiz um discurso até bem bonito em minha defesa. E vamos lá, posso dizer que tenho sido razoavelmente amada durante toda a minha vida. Na realidade, normalmente ou me amam ou me odeiam, é esse o preço que se paga pela transparência. Mas é que tem dias que me bate uma vontade muito grande de ser Gilda…  Ah, pensando bem, talvez não. É mais gostoso (e fácil) ser real.

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