Meu anjinho, a quem dei o nome de Fidel, foi embora. Foi embora cedo porque, como todo anjinho, veio apenas fazer uma visita breve aqui na Terra. São muitas as pessoas a visitar, e anjinhos não podem perder tanto tempo assim com uma pessoa só, afinal de contas.
Mesmo assim, Fidelzinho ficou aqui comigo um pouco mais de tempo do que o devido. Sua doença poderia tê-lo levado embora um pouco antes. Ah, mas eu dou muito trabalho, e então ele decidiu ficar mais um pouco. Na verdade, continuo dando trabalho, mas ele achou que o tempo já era suficiente. E que agora eu poderia começar a resolver meus dramas sozinha.
Um anjinho de alegria, isso é o que ele era. Gatinho divertido, carismático, engraçado, tagarela. Nunca se incomodava com nada, vivia num mundinho particular em que tudo era diversão. Adorava a irmãzinha brava, e embora ela morresse de ciúmes dele, o contrário nunca aconteceu. Ele sempre a olhava com admiração, fechava os olhinhos para apanhar e continuava, seguindo e amando. Um perfeito cavalheiro.
Me mostrava como era comer com prazer, dormir com prazer, se divertir de verdade. Corria pela casa destrambelhado, escorregava, derrubava coisas, caía, e quando isso acontecia, colocava as orelhinhas para trás e arrancava risadas de todos. Me recebia todos os dias com uma carinha tão gostosa e se despedia de mim com outra que deixava metade do meu coração em casa. Companheiro no banho, na hora de escovar os dentes, na hora de estudar, no choro, no mau humor. Meu companheirinho inseparável pela casa.
Quando descobri o PKD, uma doença genética típica de persas, os dois rins já comprometidos, aprendi ainda outra coisa. Aprendi que amor deve ser dado agora, neste momento. Não tem como deixar para depois. E eu passei a amar esse serzinho a cada dia, a cada minuto, a cada crise, como se fosse nossa despedida. E eu aprendi que é assim que deve ser, em qualquer situação. E o Fidelzinho correspondeu ao meu amor assim, com a mesma intensidade. Aproveitando um ao outro, cada minuto.
Em sua última noite, ele não pregou os olhos. Dormi perto dele, e acordava a todo instante para ver se estava tudo bem. Mas ele não dormia. Olhava a paisagem da varanda, como que querendo gravar cada detalhe. Eu senti que ele se despedia do mundo. Mas não demonstrou dor, não demonstrou sofrimento, os olhinhos brilhantes o tempo todo.
Foi embora. E me ensinou assim a lidar com perdas. Me ensinou que tudo o que existe pode desaparecer em um segundo, sem que possamos fazer nada. E a vida vai seguir em frente, mesmo assim. E vamos aprender a viver sem aquilo que perdemos. Mas podemos ganhar outras coisas. Que não irão substituir aquelas que perdemos, mas que vão fazer a nossa vida continuar a seguir. E que aquilo que perdemos, na realidade não perdemos, apenas se transformou, pois vai ficar para sempre em nosso coração, fazendo parte da nossa história, daquilo que somos.
Vai em paz, meu anjinho. Obrigada por ter me feito tão feliz. E por ter me amado tanto. E por ter me ensinado tantas coisas. Vai espalhar agora sua alegria em outras paragens, que você me ensinou também a ser menos egoísta.
Mesmo assim, Fidelzinho ficou aqui comigo um pouco mais de tempo do que o devido. Sua doença poderia tê-lo levado embora um pouco antes. Ah, mas eu dou muito trabalho, e então ele decidiu ficar mais um pouco. Na verdade, continuo dando trabalho, mas ele achou que o tempo já era suficiente. E que agora eu poderia começar a resolver meus dramas sozinha.
Um anjinho de alegria, isso é o que ele era. Gatinho divertido, carismático, engraçado, tagarela. Nunca se incomodava com nada, vivia num mundinho particular em que tudo era diversão. Adorava a irmãzinha brava, e embora ela morresse de ciúmes dele, o contrário nunca aconteceu. Ele sempre a olhava com admiração, fechava os olhinhos para apanhar e continuava, seguindo e amando. Um perfeito cavalheiro.
Me mostrava como era comer com prazer, dormir com prazer, se divertir de verdade. Corria pela casa destrambelhado, escorregava, derrubava coisas, caía, e quando isso acontecia, colocava as orelhinhas para trás e arrancava risadas de todos. Me recebia todos os dias com uma carinha tão gostosa e se despedia de mim com outra que deixava metade do meu coração em casa. Companheiro no banho, na hora de escovar os dentes, na hora de estudar, no choro, no mau humor. Meu companheirinho inseparável pela casa.
Quando descobri o PKD, uma doença genética típica de persas, os dois rins já comprometidos, aprendi ainda outra coisa. Aprendi que amor deve ser dado agora, neste momento. Não tem como deixar para depois. E eu passei a amar esse serzinho a cada dia, a cada minuto, a cada crise, como se fosse nossa despedida. E eu aprendi que é assim que deve ser, em qualquer situação. E o Fidelzinho correspondeu ao meu amor assim, com a mesma intensidade. Aproveitando um ao outro, cada minuto.
Em sua última noite, ele não pregou os olhos. Dormi perto dele, e acordava a todo instante para ver se estava tudo bem. Mas ele não dormia. Olhava a paisagem da varanda, como que querendo gravar cada detalhe. Eu senti que ele se despedia do mundo. Mas não demonstrou dor, não demonstrou sofrimento, os olhinhos brilhantes o tempo todo.
Foi embora. E me ensinou assim a lidar com perdas. Me ensinou que tudo o que existe pode desaparecer em um segundo, sem que possamos fazer nada. E a vida vai seguir em frente, mesmo assim. E vamos aprender a viver sem aquilo que perdemos. Mas podemos ganhar outras coisas. Que não irão substituir aquelas que perdemos, mas que vão fazer a nossa vida continuar a seguir. E que aquilo que perdemos, na realidade não perdemos, apenas se transformou, pois vai ficar para sempre em nosso coração, fazendo parte da nossa história, daquilo que somos.
Vai em paz, meu anjinho. Obrigada por ter me feito tão feliz. E por ter me amado tanto. E por ter me ensinado tantas coisas. Vai espalhar agora sua alegria em outras paragens, que você me ensinou também a ser menos egoísta.