sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Portas abertas



    Minha casa é meu ninho, onde cada detalhe foi colocado por mim. Onde cada cantinho tem um pedaço meu de vida. Pintei paredes, coloquei objetos, tirei objetos, escolhi as cores, as almofadas, as flores… Até mesmo cada arranhadura na parede, cada móvel um pouquinho quebrado, faz parte da minha história.

    Não importa o que aconteça, quando chego em casa sinto um abraço. Um abraço em mim mesma. Gosto dos cheirinhos, sinto o carinho dos meus gatos. Nela, parece que nada de ruim pode me acontecer.

    Confesso que, quando vim morar aqui, tive medo. Esta foi a primeira casa onde morei verdadeiramente sozinha. Era a primeira vez que eu iria ser responsável por tudo. Foi assustador, era o fim de uma história e o começo de outra, completamente nova. E eu nem sabia ainda que história queria escrever.

   E tudo foi acontecendo assim, sem planejamento. E muitas, mas muitas coisas mesmo aconteceram. Nesta casa aprendi a ficar sozinha. Sempre gostei de ficar sozinha, mas aqui percebi que eu realmente conseguia ficar sozinha. E aprendi também a encher a casa de amigos, a pedir arrego nas noites tristes, quando não queria dormir sozinha. 

    Fico impressionada ao imaginar o quanto estas paredes viveram. Quanto me viram feliz, quanto me viram triste, quanto me viram enfurecida… E fico imaginando: será que quem entra aqui consegue perceber o quanto de mim está conhecendo?

  Pois é, abrir a casa da gente é como abrir o coração. Mostrar, escancaradamente, quem é você. E ainda quem são seus amigos, quem são seus amores. Está tudo registrado ali, para quem quiser observar.

    Talvez por isso muitas pessoas não gostem de receber pessoas em casa. Tive uma amiga no colégio que tinha pavor de que qualquer pessoa vislumbrasse, pela porta, qualquer detalhe da casa dela. Eu não. Gosto de abrir minhas portas.

   Gosto de dividir o que vivi. Gosto de dividir o que sinto. Não sei me expressar muito bem por palavras faladas, não sei demonstrar afeto. Não sei controlar minha raiva, tenho minhas emoções à flor da pele. Sou ansiosa pela verdade, não consigo fingir, não consigo mentir. Abrir minha casa é abrir meu coração, é pedir que me compreendam apesar das aparências. É pedir que não me vejam, não me escutem, mas sim, me sintam.

   E escrever? Escrever é mostrar meus sentimentos ao desconhecido. É contar minhas histórias, aquelas que somente minha casa registrou, a pessoas que talvez jamais visitem a minha casa. E que talvez jamais cheguem a me conhecer pessoalmente. E que, talvez por isso, compreendam muito mais meus sentimentos e medos do que quem está ali, ao lado, sofrendo as consequências de minha falta de habilidade social, de minhas emoções. Escrever é poder ser matéria bruta, abrir as portas da casa, do coração, da vida.

   Ou talvez seja um mero pedido desesperado de carinho.

2 comentários:

  1. Olá Cris!!! Que saudade dos tempos passados nessa casa tão acolhedora, saudade dos jantares e da comida deliciosa feita com todo carinho, das almofadas super confortáveis que tanto me abraçaram...ah, obrigado por abrir seu coração!!! Lembre-se que o meu coração continua aberto para você me visitar! Super beijo, Fábio Oliveira

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    1. Ahhhhh.... Saudades também!
      Você percebeu que tem um trechinho aí que é seu, né? :)
      Beijinho!

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