Autoajuda é um fenômeno curioso. Primeiro surgiram os livros. Depois as palestras. Agora, com as redes sociais, a autoajuda tem seu momento mais que pop: as fotos e ilustrações com legendas. O mais engraçado é que as frases são atribuídas a notáveis como Shakespeare, Platão, Aristóteles, Clarice Lispector. Até os mais moderninhos como Tati Bernardi, Martha Medeiros e Fabrício Carpinejar já conseguiram suas ilustrações. E o pior é que é muito óbvio que o autor em questão jamais escreveria aquilo. Ou porque a frase é muito pobre, ou porque o vocabulário é moderno demais para isso. Gente, eu já vi atribuírem a filósofos gregos coisas que jamais poderiam existir na época.
E o pior de tudo é que esse negócio de autoajuda não funciona. A pessoa lê, fica toda emocionada, acha que a coisa foi escrita exatamente para ela, e diz: é isso mesmo, eu vou tomar um rumo na minha vida agora! Então tem uma noite de sono e volta tudo a ser como era antes. E no dia seguinte, lê outra coisa, e assim ela segue, dia após dia.
Lembra-me muito as palestras motivacionais. Existem empresas que fazem essas palestras diariamente, pela manhã. O sujeito sai para trabalhar pilhado, depois da palestra. No fim do dia, está meio desanimado, mas no dia seguinte a palestra vai fazer com que ele continue o processo.
E por que não funciona? Porque são muletas. Porque são perfeitas. Porque são confortáveis. Porque acalentam. Porque são apenas mimos.
Veja só um dos pensamentos que mais fazem sucesso. São muitas as variantes, mas a idéia é mais ou menos essa: Deixe quem você ama ir, se for seu, volta. Ora, ora, todo mundo que está sofrendo de amor fica felicíssimo com uma frase dessas. Você está lá, contorcendo de dor, sofrendo e achando que seu mundo acabou e acreditando que nunca mais vai amar de novo. E aí vem uma frase bonitinha que diz que você não precisa sofrer, porque pode ser que a pessoa volte, ela só quer um tempo. E aí seu coração se enche de esperança, e você vai dormir feliz aguardando o tal dia chegar.
Outro da mesma linha: Quem te ama te valoriza, te procura. O sujeito está lá, se sentindo abandonado pelo seu amor. Vem alguém e diz justamente o que ele quer escutar. Como ele fica? Feliz, porque se sente cheio de razão. E fica procurando e procurando aquele ser humano que vai valoriza-lo incondicionalmente.
Tudo mentira, minha gente. Quem foi, em tese não volta. Em algumas situações, pode até voltar, mas esta não é a regra. Se foi, é porque não ama mais e ponto. E quem te ama não te valoriza o tempo todo não. Quem te ama tem um monte de coisa pra fazer, e antes de mais nada precisa se valorizar. Quem te valoriza o tempo todo na realidade é um babão obcecado por você. E vamos combinar, quem te valoriza o tempo todo… enjoa! Querida Cinderela, amor só sobrevive em movimento. Amor redondinho é falso, desculpe. Quem só elogia não conhece ou não quer conhecer.
Tem uma porção de outras frases assim, que deixam as pessoas felizes. E por que elas ficam felizes? Porque elas sentem que têm razão. E ainda por cima têm algo que guia os seus passos, como receita para a felicidade. E por que não funciona? Porque nada que só te afaga o tempo todo funciona. O que afaga deixa você parado. O que afaga não faz você pensar no novo. O que afaga faz feliz apenas por algum tempo. Depois fica o vazio. O vazio de continuar no mesmo lugar. O vazio de não crescer.
O que funciona então? O que funciona é o que provoca, que enraivece, que contraria. Que incomoda, que irrita. Só assim somos forçados a enxergar por outros ângulos, só assim somos forçados a nos movimentar, a mudar, a crescer, a aprender. Só reage quem é provocado. A vida é movimento. E quem está no quentinho não se move.
Pois é. Não adianta procurar alento para o coração. O que realmente funciona é o movimento. E só aquilo que incomoda movimenta. É o diferente que nos tira de nós mesmos. Autoajuda não funciona por isso. Porque é auto. E de nada adianta girar em torno de si mesmo.