terça-feira, 12 de março de 2013

Armários vazios



Encerrar um amor não é fácil. Digo encerrar um amor, não uma paixão ou um encantamento. Paixão, encantamento, se vão, tão leves como chegaram. Chegam como uma chama, alegram nossas vidas e, como um sonho bom, uma brincadeira, se despedem, devagarzinho, de fininho.

Amor não. Amor não chega como fogo, embora às vezes se aproveite dele para entrar. Vai se instalando, sem a gente perceber. Nem tem como se proteger. Quando você percebe, está amando. E está mudando o rumo de sua vida, mudando seus caminhos. Sonhando, fazendo planos.

Por isso dói tanto quando um amor se vai. De repente, os sonhos desaparecem, os planos se destroem, de repente sua vida não tem mais um rumo. De repente, tudo aquilo que se sonhou, que se sorriu, que se construiu, que se perdeu, tudo isso, desaparece. E sobra você sozinho, procurando um outro caminho para seguir.

Só caminhamos juntos por amor. Só modificamos nossas vidas por amor. Só abrimos mão de parte do que somos por amor. Sem o amor, nada faz sentido. O amor é o único sentimento que, de tão poderoso, faz com que emprestemos parte de nossa vida a outra pessoa. Que nos faz perdoar o imperdoável, e ignorar o que seria intolerável. 

Mas o amor é também exigente, exige cuidados. Não admite frações. Ou ele tem tudo, ou não tem nada. Você pode até tentar o enganar o amor, dando-lhe frações do que ele precisa. Mas não adianta, ele não vai sobreviver. Aos poucos, ele morre. Aos poucos, mas não sem dor. Amor é o mais forte e ao mesmo tempo o mais delicado dos sentimentos. 

Dizer que o amor sobrevive a uma separação é enganar-se. Às vezes queremos enganar nossa dor e dizer que vamos nos amar para sempre, mesmo separados. Pura mentira. Separados, caminhamos por outros caminhos. Não temos mais  a quem emprestar nosso coração, nossa alma. Nem podemos mais fazer isso. Como emprestar nossa vida a alguém que não sabemos mais ao certo quem será, daqui por diante? Não adianta. Não há generosidade fora do amor.

Separar-se é isso. É cada um pegar seus pertences. É começar a separar o que é seu, e o que não é. É ver ir embora aquilo que você já achava que era seu. É sentir falta daquilo que nem combinava na sua casa, mas que você permitiu que entrasse, e no fim acabou gostando. É olhar para os armários vazios, e não saber o que colocar neles. Embora tenha dado um trabalho danado para arranjar um espaço nestes mesmos armários. 

Os armários resumem tudo. Não, não havia espaço naqueles armários. Mas você abriu um espaço neles. Deixou o outro entrar. E agora, eles estão vazios.  E está na hora de preencher os  seus armários com o que você tem. Só que agora do seu jeito. 

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