sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Mas eu me mordo de ciúme!



Eu já me mordi de ciúme sim. Já fiz cenas terríveis, daquelas dignas de filme. Já falei bobagens, tudo igualzinho à música do Ultraje. Mas também, quem nunca fez isso que atire a primeira pedra. Duvido de verdade de quem diz nunca sentir ciúme. É inerente ao ser humano. Você pode às vezes nem sentir ciúme do seu namorado, mas será que não sente do seu amigo? Ou do seu pai, da sua mãe, do cachorrinho, do priminho, ou da sua coleção de canetas? Pois é, a gente precisa de algo pra chamar de meu, seja lá o o que for.

Já interpretei o ciúme como medo de abandono, como insegurança, como desvio de paixão, ou sei lá quantos outros clichês. O resultado dessas definições é que isso coloca o ciumento no papel de vítima. Aliás, ser vítima é uma situação muito cômoda, pois essa é a qualidade da criatura que precisa ser salva de alguma maneira. Toda vez que nos vitimizamos, colocamos a nossa salvação nas mãos de outra pessoa. Sim, o problema de entender o ciúme dessa maneira transporta toda a culpa para o objeto do ciúme. Porque, afinal de contas, é o objeto do ciúme que não está compreendendo as necessidades do ciumento, esse ser tão frágil, que sofre tanto. E todo o mundo se compadece do pobre coitado, e se solidariza, e tenta ajudar. Na verdade, todos nos identificamos com o ciumento.

Mas não é que ouvi de um amigo a seguinte definição: "Ciúme não é nada disso, é apego. É necessidade de controle." 

Pois vejam só. Não é que de repente o pobre do ciumento passa da qualidade de vítima para a de algoz? O ciumento na realidade é um controlador. Ele não tem medo de ser abandonado, ele apenas quer controlar. Quer saber de todos os passos da outra pessoa, mas não para compartilhar experiências. A curiosidade do ciumento vem da sua necessidade de influir nas decisões dessa outra pessoa. Ciumento fica infeliz se o outro está feliz sem que ele tenha interferido em nada para que isso aconteça. Ele quer participar de tudo, para criar uma dependência e, assim, ter satisfeita a sua necessidade de controle.

Medo de abandono todos temos. Insegurança, idem. Mas não é isso que gera o ciúme não. Porque o ciúme é um sentimento devastador, que provoca destruição por onde passa. Destrói momentos bons, sentimentos bons, destrói histórias inteiras. Ele cega os nossos atos. E tudo por que? Porque pensamos que, quando controlamos, estamos seguros. Assim entendem os ditadores, os tiranos. O problema é que é simplesmente impossível ter controle sobre qualquer pessoa. Por isso, nenhuma ditadura ou tirania prevalece por muito tempo. Porque é impossível ter controle sobre pessoas infelizes. Pessoas infelizes normalmente se revoltam. E com violência.

Por todas essas razões, descobri o quanto é horrível ser ciumento. Não é bom descobrir-se tirano. Ao contrário do que dizem as novelas da TV, isso não tem nada a ver com amor. Amor é parceria de vida, é um bem querer, é uma troca de experiências, de vidas distintas que se cruzam em um determinado ponto. Amor é preciosidade que não se encontra em qualquer canto. O ciumento não troca, ele suga. Quer informações, quer ser o único responsável pela felicidade do outro, pois sabe que é um embuste, que tem pouco a oferecer. 

Ok, ainda me mordo de ciúme, pois é difícil libertar-se completamente desse traço humano tão egoísta. Mas vamos dizer que agora apenas mordisco. Pois toda vez que volto a ter esse sentimento, penso no quanto seria horrível se alguém pretendesse ser a minha exclusiva fonte de felicidade. Se alguém quisesse me tiranizar a ponto de me impedir de aprender com meus próprios erros. Se alguém me achasse tão incapaz a ponto de se achar no direito de decidir o que é melhor para mim. 

É muito mais gostoso compartilhar do que exigir explicações. Afinal de contas, amor de verdade não surge por aí, a cada esquina, ele é construído, dia após dia. E por ser tão raro e tão poderoso, apenas nós mesmos somos capazes de destruir um amor. Então, não vale a pena perder tanto tempo controlando a vida do outro. Controlar a própria vida já é algo deveras trabalhoso, pois não.

E por fim, se aquele medinho egoísta bater de novo, não pense em tirar nada de ninguém. Não pense em apequenar. Simplesmente preencha a si mesmo, até transbordar. Pois amor gigante só surge entre pessoas igualmente gigantes. 

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