quarta-feira, 22 de junho de 2011

Cão que ladra não morde

       
       Todo ser humano é mau. É isso mesmo, não adianta fazer-se de desentendido e dizer que é bonzinho, porque nascemos maus. Basta observar uma criança. Quanto mais nova, mais maldosa ela consegue ser. Maltrata animais, quer tudo para si própria, nem se importa com o resto do mundo. E tanto é assim que chegamos a nos espantar quando uma criança nova comete um ato de bondade, como dividir um brinquedo ou uma gostosura qualquer. Vamos lá, se isso fosse natural, não ficaríamos tão espantados, não é mesmo?

        Crescemos e aprendemos que, se formos maus o tempo todo, ninguém vai gostar de nós. E como não queremos ficar sozinhos, vamos controlando nossa maldade até nos tornamos… civilizados!

        Bom, confesso que fracassei nesse estágio de evolução. Não consigo esconder minha maldade e vestir a fantasia da civilidade, o que me causa inúmeros problemas. E sabe qual o maior deles? Não saber economizar minhas doses de maldade para utilizar nas horas certas. Sim, é isso mesmo, como um filho pródigo, vou desperdiçando meu potencial em pequenas doses, a ponto de não encontrar a medida necessária quando preciso.

        De fato, minha revolta e indignação comigo própria e minha prodigalidade têm um motivo. Meu IPhone foi furtado na esteira de segurança do aeroporto de New Castle. Isso mesmo, naquela hora em que somos revistados e revirados por seguranças com ares de seriedade. E o que essa pessoa aqui com fama de má fez nessa hora? Gritou, esperneou, rodou a baiana e mostrou a que veio? Não, nada disso. Com uma civilidade inglesa e uma paciência nipônica, dispôs-se a conversar calmamente com a segurança, assistir ao vídeo inutilmente, esperar a polícia (não) chegar para fazer a ocorrência, até quase perder o vôo…. E embarcar no último segundo, sem o amado IPhone! IPhone 4, diga-se de passagem!

        Por que isso aconteceu? Não faço a mínima idéia. Não sou tímida, sou estouradinha e não teria problema algum em fazer um show. Mas essa hipótese nem passou pela minha cabeça, inclusive até agora não consigo me imaginar fazendo isso por conta de um objeto, mesmo sendo meu IPhone. E hoje mesmo sofri algumas agressões típicas da neurose urbana e de verdade só consegui enxergar o lado antropológico da coisa. Passei o dia pensando no motivo dessa calma toda e só consegui descobrir este: de tanto gastar minha malvadeza assim que ela surge não tenho energia para direcioná-la nos momentos certos. Sim, cão que ladra não morde. Perigo mesmo está em quem guarda direitinho um estoque imenso.

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