segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Me dá um abraço?

       
           Eu adoro abraçar. Abraçar amigos, família, amores, meus gatinhos, e até almofadas e travesseiros. Não sou assim do tipo carinhoso grudento, daqueles que ficam alisando continuamente,  mesmo porque não tenho paciência para fazer a mesma coisa durante muito tempo, mas adoro esse momento abraço. Aquele momento de sentir o calorzinho do corpo da pessoa, sentir o coração dela batendo, de sentir uma pele respirando da outra. Parece que nesse momento você se entrega, se doa, pede para que confiem em você, dá e recebe aconchego.

        Tem gente que não gosta de abraçar. E tem gente que gosta, mas não aprendeu a abraçar. Eu teria mil histórias para contar a respeito de abraços, mas não posso. Perderia grande parte de meus amigos que, afinal, já devem ficar bastante ressabiados comigo, pois ultimamente qualquer conversa, qualquer fato vivido, corre o risco de virar uma crônica publicada aqui. Mas a verdade é que adoro abraçar quem não sabe abraçar. Adoro dar abraço urso nessas pessoas. Até elas saírem cambaleando, feito meus gatos, que odeiam os meus abraços. Ou fingem que odeiam, pois são gatos e nunca vão demonstrar o quanto adoram ser amados.

        Mas não consigo abraçar quem não gosta de ser abraçado. Sabe quando você está abraçando e a pessoa vai te soltando, bem rápido? Aí eu sinto medo. Medo de rejeição. Medo de incomodar. Acho que ninguém gosta da sensação de ser indesejado. Mas por que será que tem gente que não quer ser abraçada?

        Abraçar é mostrar emoções, simples assim. E não é todo mundo que quer demonstrar emoções a torto e a direito. Já eu nasci com essa necessidade irrefreada de transparência, de mostrar o tempo todo o que eu estou sentindo. Alegria, tristeza, carinho, ódio, decepção, raiva, amor, desespero, angústia, insegurança, qualquer tipo de emoção que você puder imaginar, caso ainda não tenha conseguido entender, você vai perceber no meu rosto, nos meus gestos, nas minhas palavras, nas minhas atitudes. O que, eu sei, às vezes é desesperador para mim e para as pessoas que me cercam.

        Abraçar é ainda um ato de entrega, de vulnerabilidade, de confiança. Quem abraça diz que está ali, pronto para dar e receber carinho, quebrando as fronteiras da individualidade por alguns instantes. Quem abraça com vontade abre aquela porta da alma para o outro ver, permite que a alma diga pro outro vem, pode me visitar.

        Só que às vezes você não consegue abraçar aquela pessoa que você mais ama. E não consegue entender. Abraça todo mundo, menos quem você mais ama no mundo. Por exemplo, eu demorei para conseguir abraçar meus pais. E até hoje eles não aprenderam a me abraçar direito. Filhos de japoneses, para eles amor é algo mais prático, é algo que se demonstra pela presença constante e segura. Todo o resto é supérfluo. Ou talvez eles não queiram que eu veja a alma deles, queiram apenas que eu os veja como fortes, sempre. Não foi de todo ruim.

        E por que eu estou escrevendo tudo isto? Porque escrever para mim é um abraço. Um abraço em quem eu conheço e também em quem eu não conheço. Este turbilhão de emoções ambulantes que sou eu às vezes se embaralha todo na vida real. Aí eu tenho que escrever, para organizar tudo. E acho até que tenho me saído bem. Então é isso. Estão aqui as minhas emoções para você que eu não conheço. E para você que eu conheço, amo e nunca consegui abraçar decentemente, eu peço o seu abraço.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

De mãos dadas


        Eu sempre choro em cerimônias de casamento. Choro porque acho lindo e acredito em casamentos, e as cerimônias, quaisquer que sejam, simbolizam essa união. Está lá para quem quiser ver, a despeito de todo o carnaval e qualquer comércio que se tenha criado sobre essa instituição. Mas calma, acredito em casamentos, e não em príncipes e princesas encantados, e muito menos em foram felizes para sempre, por simples magia, sem qualquer trabalho.

        Gosto da idéia do casamento, seja lá qual for o formato pelo qual ele se manifeste. A idéia de duas pessoas que, dentre tantas no mundo, se encontraram e escolheram uma à outra para viver os seus sonhos, desejos e tristezas, me encanta. Acho essa escolha um ato de extrema coragem que só pode ser tomado com muito amor. Você escolhe que é aquele alguém que vai caminhar com você, de mãos dadas. Outras tantas pessoas vão surgir pelo caminho, mas é naquelas mãos que você segura. Em algumas horas segura para apoiar, em outras segura para se apoiar. Segura porque confia. Segura porque sabe que vocês querem chegar ao mesmo lugar, mesmo que em alguns momentos vocês tenham que desviar um pouco do caminho. Aí vocês se soltam, sem medo, porque, em algum momento, os caminhos vão voltar a se encontrar, e vocês poderão continuar andando de mãos dadas. Não há pressa em chegar, e nenhum dos dois pensa em chegar antes do outro. O bacana é o caminhar de mãos dadas, o bacana é chegar onde se pretende juntos. Ou então não ficar triste se não conseguirem chegar. O que importa mesmo são as mãos dadas.

        Casamento para mim é isso, andar de mãos dadas. E isso não implica em morar junto, visitar os familiares nos fins de semana, agüentar churrascos dos amigos de trabalho. Sim, pode até ser isso, se você gostar do pacote tradicional. Mas o pacote tradicional não é necessário para que se viva um casamento.

        Tem gente que pensa que é casado, mas não é. Aí se põe a falar mal de casamento. Diz que casamento destrói o amor. Que nada. Casamento só existe enquanto houver amor. Se você não sente amor, não é casado. Se você não respeita, não admira, não confia e não faz planos com o seu cônjuge, você não é casado. Se você não se sente à vontade para falar o que pensa, de ligar na hora que der vontade, de contar como foi seu dia, de reclamar de Deus e do mundo inteiro num dia ruim, de usar uma camiseta horrorosa e rasgada para assistir televisão, e se a pessoa não tem paciência para tudo isso, você tem um roomate, não está casado. Vocês estão um ao lado do outro, mas não de mãos dadas. Suas mãos apenas se tocam de vez em quando, nos momentos de prazer.

        E é por isso que eu gosto tanto das cerimônias de casamento. Nelas as pessoas tornam pública a sua escolha, nelas as pessoas contam para todo mundo que pretendem caminhar juntas. E isso exige muita coragem. Porque ninguém quer dizer para todo mundo que fez uma escolha, para alguns dias depois desistir dela. Ou melhor, não deveria…. mas isso é outra história, estou ainda no simbolismo. Quem escolhe diz a todo mundo por quem vai lutar, apesar de toda essa dificuldade que é amar. Sim, pois amar não é fácil, exige carinho, foco, e muito trabalho, diário. Como tudo na vida que tem importância, aliás. Ah, e as mãos dadas, sempre.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Como assim, outro filho?

        
       "No ano que vem, eu vou ter mais um filho!". A minha amiga soltou essa frase entre um pedaço de pizza quatro queijos e outro de pizza zucchini, os olhos brilhantes e um sorriso largo. Isso depois de eu relatar animadíssima todos os meus planos para o futuro, planos mirabolantes e aventureiros, convencida de que estava planejando a existência mais interessante do mundo.

        Não sou muito hábil no trato social, e não sei exatamente qual foi a minha expressão quando ouvi a bombástica frase. Confesso que fiquei estarrecida, cheguei a perguntar se foi opção ou se foi sem querer. Puxa, já são duas as crianças, um menino e uma menina, uma graça os dois, já estão crescendo, e não estava bom, o casal já poderia voltar a viver, freqüentar restaurantes, festas, viajar… Como assim, mais um filho???? Cheguei a cometer a indelicadeza de perguntar o porquê dessa decisão, tamanho foi o meu espanto.

        O papo continuou, divertido como sempre, continuamos a dar muitas risadas, aquelas risadas que só a intimidade propicia. Comecei então a contar o quanto qualquer rotina me sufocava, que não conseguia viver sem imaginar alterações e mudanças de rumo na vida, da minha necessidade de conhecer mais e mais coisas, e que achava que gente como eu jamais conseguiria viver a estabilidade de uma vida com filhos. Ela retrucou: "Ah, não existe nada mais emocionante na vida do que ter filhos. Um dia nunca é igual ao outro. São emoções o tempo todo!".

        Pronto. Dois a zero para ela. Parei finalmente para pensar no meu pré-conceito. Na minha cabeça, as pessoas com filhos eram acomodadas que desistiam da própria vida para se realizar em outra. Mas não, que coisa. Ter filho é um ato de muita coragem e aprendizado. É perder-se de si próprio, experimentar um amor tão grande que faz você livrar-se de suas próprias manias e loucuras. Não que filho seja a redenção dos pecados, mas realmente é um constante renovar, uma descoberta emocionante do mundo através de uma outra vida. Relembrar como era simples viver quando ainda não tínhamos vestido nossas duras armaduras.

        Mas calma, não fiquei com vontade de ser mãe por conta dessa conversa. Só gostei ainda mais um pouquinho dela depois disso, mas foi só isso. E gostei porque somos tão diferentes, afinal. Ela é doce, estável, equilibrada. Sempre tem a palavra certa para apaziguar uma tormenta. Já eu sou a própria tormenta. Impulsiva, explosiva. Movimento tudo ao meu redor, não existo para acalmar, existo para balançar o que já existe. Mas no fundo somos tão parecidas… buscamos praticamente as mesmas coisas, só que por caminhos diferentes. E não é essa a graça da amizade? Conseguir ver o mundo através dos olhos do outro, e respeitar e amar. E aprender, muito. Uma delícia essas diferenças.