quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Como assim, outro filho?

        
       "No ano que vem, eu vou ter mais um filho!". A minha amiga soltou essa frase entre um pedaço de pizza quatro queijos e outro de pizza zucchini, os olhos brilhantes e um sorriso largo. Isso depois de eu relatar animadíssima todos os meus planos para o futuro, planos mirabolantes e aventureiros, convencida de que estava planejando a existência mais interessante do mundo.

        Não sou muito hábil no trato social, e não sei exatamente qual foi a minha expressão quando ouvi a bombástica frase. Confesso que fiquei estarrecida, cheguei a perguntar se foi opção ou se foi sem querer. Puxa, já são duas as crianças, um menino e uma menina, uma graça os dois, já estão crescendo, e não estava bom, o casal já poderia voltar a viver, freqüentar restaurantes, festas, viajar… Como assim, mais um filho???? Cheguei a cometer a indelicadeza de perguntar o porquê dessa decisão, tamanho foi o meu espanto.

        O papo continuou, divertido como sempre, continuamos a dar muitas risadas, aquelas risadas que só a intimidade propicia. Comecei então a contar o quanto qualquer rotina me sufocava, que não conseguia viver sem imaginar alterações e mudanças de rumo na vida, da minha necessidade de conhecer mais e mais coisas, e que achava que gente como eu jamais conseguiria viver a estabilidade de uma vida com filhos. Ela retrucou: "Ah, não existe nada mais emocionante na vida do que ter filhos. Um dia nunca é igual ao outro. São emoções o tempo todo!".

        Pronto. Dois a zero para ela. Parei finalmente para pensar no meu pré-conceito. Na minha cabeça, as pessoas com filhos eram acomodadas que desistiam da própria vida para se realizar em outra. Mas não, que coisa. Ter filho é um ato de muita coragem e aprendizado. É perder-se de si próprio, experimentar um amor tão grande que faz você livrar-se de suas próprias manias e loucuras. Não que filho seja a redenção dos pecados, mas realmente é um constante renovar, uma descoberta emocionante do mundo através de uma outra vida. Relembrar como era simples viver quando ainda não tínhamos vestido nossas duras armaduras.

        Mas calma, não fiquei com vontade de ser mãe por conta dessa conversa. Só gostei ainda mais um pouquinho dela depois disso, mas foi só isso. E gostei porque somos tão diferentes, afinal. Ela é doce, estável, equilibrada. Sempre tem a palavra certa para apaziguar uma tormenta. Já eu sou a própria tormenta. Impulsiva, explosiva. Movimento tudo ao meu redor, não existo para acalmar, existo para balançar o que já existe. Mas no fundo somos tão parecidas… buscamos praticamente as mesmas coisas, só que por caminhos diferentes. E não é essa a graça da amizade? Conseguir ver o mundo através dos olhos do outro, e respeitar e amar. E aprender, muito. Uma delícia essas diferenças.

2 comentários:

  1. Acredito que muitas de nós sejamos assim, tal como você descreveu, "A própria tormenta", mulheres portadoras de espíritos inquietos... só que umas conseguem ficar, e outras, sempre conseguem partir.

    As coisas são como são, nem boas nem ruins...

    É muito gostoso viver sempre em busca de emoções, de novidade...mas, também é, prazeroso ficar e criar raízes. Basta permitirmos sentir, sem julgar e rotular.

    Sou uma menina má também... em fase de mudanças...

    Super beijo e prazer em conhecê-la

    ResponderExcluir
  2. Obrigada pelo feedback e prazer em conhecê-la também!

    beijos

    ResponderExcluir